Famosos sem frescura

Nem só de festas badaladas e capas de revista superproduzidas vivem os artistas da tevê. Entre os efeitos colaterais da fama, está o assédio pouco convencional feito por parte da mídia e que cada vez ganha mais espaço em diversas emissoras. Pânico na TV, na Rede TV!, CQC, na Band, a dupla Mano Quietinho e Mendigo, em programas da Record, e apesar de autorizado, o Casseta & Planeta, na Globo, não perdem a oportunidade de colocar as celebridades em uma saia-justa. ?Os programas convencionais fazem sempre as mesmas perguntas. Já nós perguntamos o que o público realmente gostaria de perguntar?, valoriza Rodrigo Scarpa, o repórter Vesgo.

Para ele figuras como ex-participantes do Big Brother Brasil ou o jogador Ronaldo, que se envolveu em um escândalo com travestis, pedem para ser ?zoados?. ?É claro que, se o encontrássemos, íamos perguntar como ele não viu logo de cara que eram travestis. Qualquer um vê?, enfatiza Rodrigo.

Antigos integrantes da turma do Pânico, Carlos Silva e Vinícius Vieira, o Mendigo e o Mano Quietinho, agora pegam os artistas de calça curta na Record. Para a dupla, o sucesso do trabalho que fazem está no fato de mostrarem que os famosos não são intocáveis como muitos veículos gostam de mostrar. ?Os artistas não são simplesmente os modelos que as revistas mostram. Muitos têm senso de humor e nosso foco é mostrar o lado engraçado deles?, justifica Vinícius, ao dizer que nem sempre eles realmente podem fazer todas as perguntas que têm vontade.

Até mesmo em campanhas publicitárias, a receita é humanizar as celebridades para atrair o consumidor. Em propagandas como a do amaciante Mon Bijou e das sandálias Havaianas, por exemplo, o ator Reynaldo Gianecchini aparece de uma maneira pouco glamourosa. Na primeira, canta, dança e pede para ser chamado de Mon Bijou. Na outra, leva um fora de uma garota ao se exibir com suas sandálias. ?Não dá para banalizar o uso de celebridades em campanhas publicitárias. Fica sem sentido e vira mais uma revista Caras. O ideal é colocar o ator de um jeito inusitado?, avalia Fernando Rodrigues, diretor de criação da DPZ, agência responsável pela propaganda do Mon Bijou. Reynaldo Gianecchini, por sua vez, aproveita essas oportunidades para se desvencilhar de uma imagem que não gosta de carregar. ?Essas campanhas desmitificam a figura do galã, chance que nem sempre uma novela dá?, compara o ator.

Para o psicanalista Luiz Alberto Py, tanto no caso dos programas de tevê quanto no das campanhas publicitárias o sucesso está no fato de ver que a celebridade é vulnerável. O médico cita, inclusive, o compositor Tom Jobim, que dizia que no Brasil o sucesso é imperdoável. Para ele, o brasileiro carrega uma certa hostilidade e uma inveja explícita. ?Observar o Gianecchini levando um fora de uma garota gera uma certa satisfação, além da sensação de sermos todos iguais?, exemplifica Luiz Alberto.

Afonso/ Carta Z Notícias

O sucesso desses programas de tevê e até de campanhas publicitárias
 está no fato de ver que a celebridade é vulnerável.

Acostumado a constranger políticos com perguntas bastante diretas na década de 80, na pele do repórter Ernesto Varella, Marcelo Tas agora comanda a turma do CQC, na Band. O apresentador acredita que o público gosta mesmo é de ser surpreendido e defende que é saudável para os artistas e até para a indústria de celebridades que alguém revele o outro lado da vida das estrelas. ?Estavam todos acostumados ao conforto da cobertura chapa branca de seus próprios veículos?, critica Marcelo. Mas ele faz questão de destacar. ?Somos frontalmente contra que os artistas sejam vítimas de pegadinhas de mau gosto?, completa.

Não tem graça

Há quem não leve na esportiva as piadinhas e brincadeiras que os humoristas fazem por aí. O cantor Netinho de Paula e a atriz Carolina Dieckmann, por exemplo, estão entre as personalidades que já tiveram problemas com a abordagem da dupla Vesgo e Sílvio, do Pânico na TV. Ao ouvir a piada ?Victor, faz anos que não te vejo? quem teve uma reação inesperada foi Victor Fasano, que acabou esmurrando Rodrigo Scarpa, o Vesgo. O ator é direto ao opinar sobre o tipo de humor feito pelo programa. ?Sou a favor do humor inteligente. Já o humor que usa as pessoas como palhaço é burro e vagabundo?, afirma Victor.

No último dia 4 de junho, a 6.ª Câmara Cível do Rio de Janeiro definiu que a Rede TV! deve pagar uma indenização de R$ 150 mil a Luana Piovani e R$ 50 mil a Dado Dolabella. Os dois resolveram processar a emissora quando terminaram o namoro em 2007 e a dupla Vesgo e Sílvio assediava o casal na tentativa de fazê-los reatar. Ao serem procurados para falar sobre o assunto, os atores não quiseram se pronunciar.

O humorista Rodrigo Scarpa, no entanto, enfatiza que com a maioria dos atores a relação é boa e os problemas são muito pontuais. ?No começo a gente já errou. Mas nos autocensuramos com essas experiências e hoje as celebridades já estão acostumadas com a gente?, acredita.

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