Falabella, o prefeito de Bocaiúvas

Há vários tipos de pessoas: as que vivem cansadas, as que cansam os outros e as aparentemente incansáveis. O ator Miguel Falabella pertence a essa última categoria. Adepto do lema “tudo-ao-mesmo-tempo-agora”, ele está em todas. Dirige o espetáculo “Capitanias Hereditárias”, atua na comédia “Batalha de Arroz num Ringue pra Dois” e ensaia a peça “Veneza”, prevista para estrear em abril. Mesmo assim, ainda arranjou uma brecha na agenda para atender a um pedido do amigo Roberto Talma para substituir Fábio Jr. no papel de Juca Tigre, de “Agora É Que São Elas”, a próxima das seis da Globo. “Até hoje, nunca fui primeira opção para nada. Sou sempre a quarta ou quinta. Mas nada na minha vida veio fácil. Não tenho padrinho na Globo”, garante.

De fato, os poucos personagens que fez na tevê, como o malandro Miro, de “Selva de Pedra”, e o homossexual Zé Luís, de “Mico Preto”, só foram parar nas mãos de Falabella porque Ney Latorraca e Carlos Alberto Riccelli, respectivamente, não puderam fazê-los. Até mesmo o Caco Antibes, que interpretou por seis anos no “Sai de Baixo”, foi escrito para Luiz Fernando Guimarães. Na verdade, Falabella volta a aparecer na Globo depois de um sumiço de um ano, quando deixou de comandar o “Video Show”. Ele bem que tentou emplacar a “sitcom” “Batalha de Arroz num Ringue para Dois” na Globo, mas a emissora engavetou o projeto. “A tevê não quis, mas o teatro sempre vai me querer”, esnoba.

O jeito foi Miguel Falabella voltar mesmo à ativa em novelas. A última em que atuou foi “Cara e Coroa”, onde interpretou o mau-caráter Mauro, em 1995. “Sempre fiz vilão com status de protagonista. Mesmo quando o personagem não era protagonista, eu o transformava em protagonista”, gaba-se. Desta vez, Falabella não vai precisar se dar a esse trabalho. Juca Tigre é mesmo o protagonista de “Agora É Que São Elas”. Prefeito da fictícia Bocaiúvas, ele é casado com Van Van, uma ex-miss espertalhona e ambiciosa interpretada por Marisa Orth. Numa das primeiras cenas em que os dois gravaram juntos, Falabella não se conteve e soltou o bordão: “Cala a boca, Magda!”. “Se o povo lembrar do Caco e da Magda, vou achar ótimo. É sinal que fizemos bem-feito. Se fosse ruim, ninguém lembraria”, argumenta.

Velhos colegas

Mas o casamento de Juca Tigre e Van Van vai ser abalado quando a fazendeira Antônia, vivida por Vera Fischer, reaparecer em Bocaiúvas. Os dois foram noivos no passado, mas brigaram e o amor transformou-se em ódio. A atriz foi um dos motivos que o levaram a voltar às novelas. “Adoro a Vera. Ela é uma mulher deslumbrante!”, elogia. O outro motivo, ressalta ele, diz respeito ao fato de o convite ter partido de quem partiu. No comecinho dos anos 80, recém-chegado de Londres, onde trabalhou durante um ano como entregador de pizza e dançarino de boate, Falabella aceitou o convite de Maria Padilha para ir a uma festa. Lá, sentiu-se deslocado porque todos os convivas não falavam de outra coisa senão de trabalho. Desempregado, isolou-se num canto e começou a contar piadas para um sujeito bigodudo, que não parava de rir de suas histórias. O tal sujeito era Roberto Talma, que o convidou para fazer “Sol de Verão”, de Manoel Carlos, em 82. “Sempre fui um privilegiado por trabalhar no que gosto”, frisa.

E lá se vão mais de 20 anos desde que Miguel Falabella estreou na Globo. De lá para cá, apresentou o “Video Show” por 15 anos, escreveu a novela “Salsa e Merengue” em parceria com Maria Carmem Barbosa e atuou em uma minissérie, “As Noivas de Copacabana”, e quatro novelas. Das atividades que exerce, confessa que escrever é a mais prazerosa delas. “Ser autor me absorve muito. Já tive convite para escrever para a tevê argentina. Mas não quero sair daqui. Sou do samba”, brinca. Enquanto aguarda um convite para tornar a escrever novelas, ele diz que Juca Tigre não exigiu maiores arroubos de composição. Quanto a eventuais críticas, ele também não parece nem um pouco preocupado com elas. “Nunca fiz tipo. Gostou, gostou. Não gostou, passa no caixa”, diverte-se.

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