Exposição ‘Food’ reúne 16 artistas de vários países

Ao entrar na exposição Food: Reflexões sobre a Mãe Terra, Agricultura e Nutrição, aberta a partir desta quarta-feira, 19, o visitante desavisado pode ter a impressão de que a Comedoria do Sesc Pinheiros mudou de andar. Afinal, há pão sobre a mesa, xícaras de café suspensas por cabos, feijão em redes plásticas e até um minimercado logo à entrada. Mas são obras assinadas respectivamente pela romena Mircea Cantor, o jamaicano Nari Ward e os brasileiros Ernesto Neto e Eduardo Srur, quatro dos 16 artistas presentes na mostra com instalações, fotografias e vídeos. Todos os trabalhos foram selecionados pela curadora suíça (de origem armênia) Adelina von Fürstenberg com o objetivo de analisar o papel da comida num planeta exausto de uma troca injusta: fornecer alimentos em troca da agrotóxicos e poluentes.

Filosofia

Diretora da Art for the World, organização não governamental associada ao Departamento de Informação Pública das Nações Unidas, a curadora associa arte e gastronomia não apenas pelo modo semelhante como ambas lidam com os verbos misturar, fermentar e improvisar. Isso justifica a presença de artistas que oferecem ao público obras abertas, que pedem a interação do espectador, como a do italiano Stefano Boccalini, de 51 anos, apropriadamente chamada de DébitoCrédito (2013) e inspirada num ensaio do filósofo Maurizio Lazzarato, A Fábrica do Homem Endividado.

Lazzarato defende que essa relação débito/crédito define o capitalismo contemporâneo, ao conduzir países como a Grécia ao buraco financeiro. A interpretação de Boccalini junta as duas palavras, débito e crédito, feitas de pão e prontas para consumo do público, que pode escolher entre uma ou outra. Já a instalação ao lado, Estrangeiros (2011), de Mircea Cantor, também tem pães, mas não pode ser consumida. Os pães trazem facas enfiadas. Do corte da massa surge uma montanha de sal, metáfora do sangue dos migrantes que erram pelo planeta em busca de abrigo (o pão, simbolicamente, deveria representar hospitalidade). Como se vê, trata-se de uma parábola sobre o exílio, política como outras instalações da mostra. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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