Ex-professor de história faz o general Bento Gonçalves

Werner Schünemann é capaz de discorrer durante um bom tempo sobre a Revolução Farroupilha, fazer paralelos com outros movimentos separatistas e apontar com precisão diversas passagens. Tanto desembaraço para falar da época de “A Casa das Sete Mulheres” tem explicação. E não é pela preparação que fez para viver o General Bento Gonçalves. Dos 21 aos 24 anos, o ator trabalhou justamente como professor de História. Mas a surpresa, no entanto, é saber que Werner só comprou a primeira bombacha recentemente, tem pouco sotaque e os costumes retratados em “A Casa das Sete Mulheres” é mais conhecido por ele pelos livros. “O gaúcho da minissérie é o do Sul do Rio Grande do Sul. Até os 40 anos era um mundo estranho para mim, apesar de sempre ter morado no Estado”, explica o ator de 43 anos.

Werner, por exemplo, só aprendeu a andar a cavalo para fazer o filme “Netto Perde Sua Alma”, em 2001, em que interpretou o General Netto, vivido na minissérie por Tarcísio Filho. A atuação no longa de Tabajara Ruas e Beto de Souza rendeu ao porto-alegrense o prêmio de Melhor Ator no Festival de Cinema de Brasília em 2002 e chamou a atenção de Jayme Monjardim. Ao saber que Antônio Fagundes não iria mais viver Bento Gonçalves em “A Casa das Sete Mulheres”, o diretor convocou o ator gaúcho, que tem quase 20 filmes no currículo. “Mas os dois papéis são bem diferentes. Netto era um jovem de 32 anos e Bento já tinha 48 quando estourou a revolução”, compara.

Werner também lembra que a minissérie exibe uma versão ficcional do Movimento Farroupilha, que durou de 1835 a 1845 e transformou o Rio Grande do Sul em um país durante uma década. Segundo o ator, por exemplo, Bento Gonçalves pode ter tido até 52 filhos, era mulherengo e poderia estar preparando um golpe no final da revolução. “Ele morreu de forma dolorosa, de pleurisia, dois anos após o fim da guerra”, explica com jeito professoral.

P – Como é estrear na tevê na pele de um protagonista que era para o Antônio Fagundes fazer, sem dúvida um papel concorrido entre os atores?

R – Realmente estreei já pegando o filé. Mas respeito os meus colegas. Têm atores muito bons na tevê, não só no elenco desta minissérie. É a qualidade dos atores que segura a teledramaturgia no Brasil, junto com autores e diretores. Não imagino que esteja faltando lugar na televisão. Tem para todo mundo. Mas faço questão de não perceber este tipo de competição. Tenho 43 anos e não dou mais tanta importância a este tipo de coisa.

P – O que não está sendo mostrado na minissérie em relação à biografia do Bento?

R – Ele tinha outras mulheres. Havia homens na época que não podiam ver uma escrava pela frente, tinham filhos com elas. O Bento era um mulherengo, como o Netto. Era um homem de salão, excelente bailarino. Tem um lado mundano que não está apresentado na minissérie. Tenho notícias de que o Bento teve 52 filhos. Não se pode esquecer que ele passava meses na guerra. E os exércitos levavam mulheres consigo. Outra coisa são as relações do Bento com as próprias instituições políticas. Ele chega ao final da revolução com uma oposição quase total dos outros generais porque ele simplesmente não promulga uma nova constituição.

P – Ele iria dar um golpe?

R – Pode ser. Um golpe para um ou o outro lado. Na verdade, a história ali correu mais rápido que os homens. Eles vão sendo levados e tentando retomar as rédeas. Imagina ter de criar um país, sendo um criador de gado e general do exército. Mas era uma tarefa que ele não podia se furtar. O certo é que o Bento, o Netto, o Gomes Jardim, o Davi Canabarro, não eram bananas. Eles tiveram defeitos, mas sustentaram uma idéia e a implantaram na prática. Algo, por exemplo, que Tiradentes nunca fez. Faço a comparação porque Tiradentes é o nosso maior mártir e sequer liderou uma revolução. Nem houve uma revolta ali. Estou comprando briga no Brasil inteiro, mas não dá para comparar a Inconfidência Mineira ao Movimento Farroupilha, ou à Baianada e à Revolta dos Alfaiates. A Inconfidência Mineira perde para todos eles.

P – E por que ela se tornou mais famosa?

R – Porque tinha mais intelectuais envolvidos e elementos de famílias nobres européias e não-brasileiras. Tanto que o único que foi à forca foi Tiradentes. Os outros foram exilados porque eram nobres. Mas fico satisfeito porque o Bento começa a ser incorporado pelo Brasil com a minissérie.

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