Cinema

Estréia hoje “Ensaio Sobre a Cegueira”

Com apenas uma semana de diferença, os dois diretores mais internacionais do cinema brasileiro estréiam seus novos filmes num mercado que tem sido refratário à produção nacional. Na semana passada, Walter Salles, co-dirigindo com Daniela Thomas, lançou Linha de Passe, que fez no Brasil, mais exatamente em São Paulo, com produção da Videofilmes e recursos provenientes da Lei do Audiovisual. Hoje, Fernando Meirelles estréia Ensaio sobre a Cegueira, e a coisa muda de figura. O filme adaptado do romance do Prêmio Nobel José Saramago é falado em inglês e foi proposto ao diretor de Cidade de Deus por um consórcio canadense/japonês.

O filme de Meirelles reproduz um mundo onde todos sofrem de uma “cegueira branca” e passam a viver trancafiados numa espécie de sanatório abandonado. Todos, exceto a personagem de Julianne Moore, que continua enxergando e se torna guia do marido médico (Mark Ruffalo) e de toda uma horda de cegos.

O mais curioso é que Ensaio sobre a Cegueira era justamente o filme que Meirelles queria fazer, no começo de sua carreira-solo. Ele tentou adquirir os direitos do livro, mas Saramago não quis saber de vendê-los. Num primeiro momento, o escritor português chegou a dizer que seu romance era infilmável e que transformá-lo em filme iria contra o próprio conceito do Ensaio, porque o cinema, arte audiovisual, mostra e, portanto, mata a imaginação.

Dez anos depois, Ensaio sobre a Cegueira abriu o Festival de Cannes deste ano e, na seqüência, Meirelles, cheio de apreensão, foi exibi-lo para o escritor. Saramago adorou e até as mudanças que Meirelles ainda queria fazer, para aprimorar seu filme, foram desestimuladas por ele. Saramago queria que Meirelles deixasse o filme como estava.

Mas o cineasta não seguiu o conselho do autor e o filme que estréia hoje em cem salas de todo o País apresenta diferenças consideráveis em relação à versão exibida em Cannes. Meirelles remixou o som, reduzindo as narrações do personagem interpretado por Danny Glover.

Elas ficaram menos numerosas e mais fortes. O diretor também atenuou o radicalismo de certas experiências com que seu fotógrafo e parceiro, César Charlone, recriava na tela a cegueira branca – metafórica – do escritor. Outras pequenas modificações foram feitas e o filme que estréia é outro – melhor -, sem deixar de ser, na essência, o mesmo que dividiu a platéia de Cannes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.