Ainda não dá para culpar a nova novela. Até porque os personagens criados pela dupla de autores parecem ter bom potencial. A mocinha batalhadora até sorri bastante, mas só mesmo porque é raçuda – motivos para mostrar os dentes ela não tem muitos. O galã, por sua vez, é introspectivo e cheio de conflitos, nem todos sem razão a começar pela própria mãe, uma víbora digna dos dramalhões mexicanos, que o renega escancaradamente. Além disso, entre um riso aqui e outro acolá, ganharam força na trama momentos dramáticos, como os vividos pela bela e boníssima Regina, personagem de Maitê Proença, que, à beira da morte, tenta fazer o que pensa ser o melhor para o futuro da filha.
Pelo que se pôde ver até agora, a receita tem tudo para dar certo. Em primeiro lugar porque o riso superficial não se sustenta por muito tempo. Miguel e Maria Carmem tiveram o cuidado de cercar seus vários personagens cômicos, alguns deles sem qualquer preocupação de refletir a realidade de histórias densas o suficiente para garantir à novela momentos de genuína dramaticidade. Por outro lado, porque o elenco dá conta do recado. Principalmente nos papéis centrais, mais folhetinescos, que poderiam soar maçantes em meio a tanto humor.
Adriana Esteves e Wagner Moura estão muito à vontade na pele do casal central, Heloísa e Gustavo. A atriz, que veio da surtada Lola, de Kubanacan, parece ter encontrado o tom exato da personagem, que mistura uma dose de melancolia pela trajetória sofrida a uma evidente gana de viver. Já Wagner, que o público de tevê conhece apenas dos seriados Carga Pesada e Sexo Frágil, mostra mais uma vez que é um excelente ator. E que tem capacidade de sobra para compor o galã que os autores e a direção esperam dele, sem resvalar nos truques fáceis de quem está acostumado apenas a despertar suspiros nas mocinhas. Marcos Pasquim, por sua vez, vai ter de suar muito a camisa já que agora aparece com ela para despertar alguma torcida na outra ponta do triângulo amoroso, como o misterioso Tadeu. Mas, mesmo que ele não consiga oferecer muito perigo ao romance, os necessários obstáculos estão garantidos. Atormentando o casalzinho, a insuportável Ester ganha uma bela interpretação de Zezé Polessa, que resiste à forte tentação de deixá-la feito uma personagem de teatro infantil, tamanho o maniqueísmo do papel.
Comicidade
Construída e bem defendida a trama central mais novelão, impossível! Os autores ficam com o terreno livre para fazer o que mais gostam: provocar boas risadas. A Lua Me Disse é um verdadeiro desfile de personagens cômicos. As mais escrachadas são Latoya e Withney, vividas por Zezé Barbosa e Mary Sheila. A dupla de atrizes está muito bem entrosada e garante excelentes momentos à novela. Não menos engraçada é Ademilde, a impagável dona de O Frango com Tudo Dentro, que sobressai graças à interpretação de Arlete Salles, já calejada em personagens de humor. Numa linha mais realista ainda que completamente destrambelhada, chama a atenção Débora Bloch, que empresta graça e até simpatia à mimada e inacreditável Madô.
Por outro lado, algumas situações acabam por soar excessivas. Um bom exemplo é a família de Ademilde, formada pelos imprestáveis Adilson, Adalgisa, Adail e Dona Gôndola, personagens de José Dartagnan, Stella Miranda, Bia Nunes e Thelma Reston, além dos jovens Julieta, Soraya e Adonias, vividos por Fernanda Rodrigues, Juliana Baroni e Paulo Vilhena. O problema é que o alvoroço na casa é tão grande que todas as cenas envolvendo o núcleo caem num forçado tom pastelão. Uma pena, já que, isoladamente, Ademilde é uma das boas personagens cômicas da trama.