Estado tem um longa e três curtas concorrendo no Festival de Cinema

Com quatro filmes selecionados para o 31.º Festival de Gramado Cinema Brasileiro e Latino, os produtores paranaenses conquistam espaço num terreno dominado pela fértil produção capitaneada pelo eixo Rio-São Paulo, e conseguem inserir seus filmes na disputa pelos Kikitos. A edição deste ano teve 121 filmes inscritos e 40 escolhidos para a mostra competitiva, que acontece entre os dias 18 e 23 de agosto na Serra Gaúcha.

Na categoria de melhor longa-metragem brasileiro concorrem cinco filmes: Apolônio Brasil, de Hugo Carvana (RJ); Noite de São João, de Sérgio Silva (RS); Dom, de Moacyr Góes (RJ); De Passagem, de Ricardo Elias (SP) e o O Preço da Paz, do produtor paranaense Maurício Appel. Além desse, mais três curtas completam a participação paranaense. A Cela de Foucault, de Gil Baroni (16mm), o documentário Visionários (35mm) e a ficção Paisagem de Meninos (35mm) ambos do cineasta Fernando Severo.

Ao contar a trajetória do Barão do Serro Azul, Maurício Apple trouxe à tona o fatídico episódio do Cerco da Lapa, durante a Revolução Federalista do final do século XIX. “Esse filme inclui o Paraná num importante capítulo da história política do Brasil”, comenta o produtor. A última participação de um longa-metragem paranaense em Gramado foi há dois anos, com o filme dos irmãos Schumann Onde os Poetas Morrem Primeiro, gravado no sistema digital e com orçamento menor.

Com roteiro de Walther Negrão e direção de Paulo Morelli, O Preço da Paz se passa entre 1889 e 1894, e mostra o percurso das tropas federalistas (os maragatos) até o encontro com os florianistas legalistas (pica-paus) que impediram, na capital paranaense, o prosseguimento da revolução. Nesse ponto o filme se abre, além do núcleo histórico, para a saga de Ildefonso Pereira Correia, o Barão do Serro Azul (Herson Capri). Imbuído de um espírito pacificador e pressionado pelos maragatos, Ildefonso recorre a empresários para evitar a iminente invasão de Curitiba a dinheiro.

Traidor

A atuação de Ildefonso na negociação com os maragatos toma outro rumo quando o título de barão dá lugar ao de traidor, quando os florianistas descobrem a transação. O barão e seus companheiros foram fuzilados em 20 de maio de 1894, no km 65 da estrada de ferro que liga Curitiba a Paranaguá – local demarcado por uma pequena cruz que existe até hoje. A fidelidade à biografia de Serro Azul é sustentada nas quase 5 mil páginas pesquisadas, nos arquivos do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná e em livros que narram a vida do Barão. “Levei quatro anos pesquisando a vida do Barão, com isso conseguimos fazer um filme com 95% de fatos reais”, conclui Apple.

No elenco estão, além de Herson Capri, Giulia Gam, Lima Duarte, José de Abreu, Camila Pitanga, Danton Mello e mais 63 atores paranaenses. A trilha sonora foi escrita por Jayme Zenamon e executada pela Orquestra Filarmônica de Berlim.

Patrocínios

Iniciado há sete anos e meio, o filme foi contemplado com patrocínios importantes de empresas estatais como a Copel, Eletrobrás e Sanepar. A maior parte dos recursos foram alocados pela Companhia Paranaense de Energia (Copel), que destinou R$ 1.333.785,00 à produtora. “A Copel tem na cultura do Paraná o alicerce para se firmar como uma empresa socialmente responsável”, aponta Paulo Pimentel, presidente da Companhia. “Patrocinar um filme como esse é mostrar que não só temos uma história, como também temos orgulho de mostrá-la”.

Consulta espiritual ajudou

Na fase de pré-produção de O Preço da Paz, Maurício Appel contatou Walther Negrão, novelista da Rede Globo, para que fizesse o roteiro. Durante a conversa, Negrão descobriu uma casualidade que foi decisiva tanto para aceitar o trabalho quanto para dar o desfecho do filme. “Ele ficou impressionado ao saber que o irmão de Maria José Correia, a baronesa Coca, era Dr. Leocádio Correia”, conta o produtor. Seguidor da doutrina espírita, o roteirista acabou fazendo uma consulta espiritual com o Dr. Leocádio, onde ficou sabendo da existência de uma carta escrita pela baronesa, e que fora enviada ao ministro de Administração de Floriano Peixoto, pedindo que intercedesse em favor do marido. A carta que aparece sendo escrita na abertura do filme é a que foi mencionada durante a entrevista espiritual. O conteúdo, no entanto, só é revelado no final, reforçando a emoção do público.

Voltar ao topo