Está difícil ficar diante da TV aberta nos finais de semana

Quem percorre os canais abertos sábado à tarde percebe que, apesar de mudar de emissora, tudo é igual. Mulheres seminuas, cantores de qualidade duvidosa, pessoas aguardando uma oportunidade para aparecer nas telas e ganhar um dinheirinho. E muita, muita fofoca. As opções exibidas por programas como “Caldeirão do Huck”, “Programa Raul Gil” e “Sabadaço”, de Gilberto Barros, o Leão, deixam saudade da época em que era possível descansar no sábado assistindo a um filme ou rindo das brincadeiras do velho Chacrinha. Apesar de transmitidos em emissoras diferentes, é possível dizer que estes programas têm o mesmo apelo: atrair pela futilidade.

Se parece difícil perceber o que distingue um estilo do outro, talvez o público alvo seja uma aposta. Enquanto Luciano Huck mira sua atenção para os adolescentes, Raul Gil e Leão se voltam para os adultos das classes C e D. Provavelmente as diferenças param por aí. Todos apelam para os shortinhos, os biquínis e o bizarro explícitos. Os relacionamentos armados, os convidados que se confundem com o próprio cenário de seminudez e a maneira como as dificuldades financeiras são encaradas aproximam estas produções.

Ao estrear seu programa na Band, Gilberto Barros bem que tentou levar alguma informação, como entrevistas com personalidades do cinema e da política, mas logo precisou render-se ao estilo que rege atualmente o “Sabadaço”. O que se vê é a predominância de Sheilas, Carla Perez e Xandy, dando lições sobre relacionamentos, funks com refrões descerebrados no estilo “elas estão descontroladas!” e “vai Serginho!”. Aliás, parece que o apresentador Leão decidiu mesmo apostar no funk, já que o programa vem promovendo um concurso da melhor dançarina da inacreditável música “Eguinha Pocotó”. O mal do “Caldeirão do Huck” não é mais o funk. Há alguns meses, o funk deu lugar aos “reality shows”, cujo objetivo dos participantes é, no mínimo, singelo: encontrar um grande amor. Com aquele seu hilário ar de seriedade, Huck tenta convencer que aqueles jovens bonitos precisam ir à televisão para descobrirem a sua cara-metade. Além disso, Huck cismou em querer solucionar as dívidas de algumas pessoas. No quadro “Agora ou Nunca”, ele oferece R$ 10 mil a quem superar o desafio proposto. Os coitados levam as famílias e explanam seus problemas financeiros. Quando não conseguem, os participantes choram sob aquele olhar de pena de Luciano Huck, que, como se nada estivesse acontecendo, diz: “Som na caixa DJ!”.

O “Programa Raul Gil” até que tenta escapar do tom de vulgaridade dos concorrentes, mas esbarra na falta de qualidade de quadros como “Para quem você tira o chapéu?”. Os convidados, geralmente, são atores e cantores que estão na boca dos fofoqueiros de plantão e que não se importam em desgastar a imagem soltando o verbo contra os desafetos. Os assuntos pessoais vêm à tona e o apresentador se diverte, de literalmente rolar no chão, com os dramas retratados. Ao final do quadro, Raul faz os convidados chorarem com depoimentos no estilo “Arquivo Confidencial” do “Domingão do Faustão” e, assim como o apresentador global, exalta o “exímio” caráter e a “figura humana” dos presentes. Se a qualidade do programa já não cuidasse disso, os intermináveis produtos que Raul Gil anuncia tirariam a paciência de qualquer um.

O SBT também não poderia ficar de fora do mercado em que se transformaram as tardes de sábado. Não contente em transmitir de segunda a sexta o “Falando Francamente”, comandado por Sônia Abraão, a emissora também lança mão do programa no sábado à tarde, para concorrer com estes já citados. É dose ouvir a apresentadora ler os jornais e revistas e comentar sobre assuntos sérios que correm na imprensa e mesclar isto às velhas fofocas já esgotadas durante a semana.

Difícil ficar em casa sábado à tarde. As opções estão cada vez mais próximas e piores e sorte daqueles que se atraem com reboladas, músicas de qualidade discutível e câmaras vigiando o comportamento de falsos apaixonados. Ótimo para essas pessoas que se divertem com estes programas, porque a tevê aberta, há algum tempo, vêm demonstrando que esta é a tendência da programação de toda semana, não apenas de sábado.

Voltar ao topo