Espanhol Barceló abre mostra no Brasil

O monumental elefante de Miquel Barceló, esculpido em bronze, com quatro metros de altura, representa o animal de ponta-cabeça, equilibrando-se sobre a própria tromba. A obra, já exposta em Nova York ou no Paseo del Prado de Madri, poderia também ser vista como uma árvore, diz o artista espanhol. “Para mim, não há diferença entre figurativo e abstrato”, afirma Barceló, que pinta tomates, frutas abertas ou praias brancas com a mesma desenvoltura com que esculpe um palito de fósforo gigante e cria cerâmicas, de fundo ancestral.

Todas essas obras descritas estão nas mostras que Miquel Barceló apresenta agora no Brasil. Nesta quarta-feira, 28, à noite, na Pinakotheke São Paulo, no bairro do Morumbi, ele inaugura a primeira delas, com 18 pinturas, cerâmicas, esculturas e o Elefandret, criado originalmente em 2007. Depois, a partir de 23 de setembro, uma outra seleção de 23 de suas peças será exibida na Pinakotheke Rio de Janeiro, no bairro de Botafogo, até, por fim, as criações do famoso e valorizado artista espanhol chegarem, em novembro, à Galeria Multiarte de Fortaleza. As exposições são realizadas com seus trabalhos mais recentes, a maioria deles, produzidos entre 2013 e este ano.

Há humor nas criações de Miquel Barceló, de 57 anos, mas também ancestralidade. Um nômade nascido em Mallorca, que viveu anos na África e hoje se divide entre ateliês na Espanha e em Paris, o pintor, como se considera, primordialmente, afirma que acredita ser a pintura “uma ferramenta de pensamento da modernidade, mas cujas raízes são muito profundas”. A materialidade, a monumentalidade (a relação física com o fazer) e a escolha dos temas de suas obras – assim como o gosto pela cerâmica – não deixam dúvida quanto a busca pela essencialidade.

Certa vez, em depoimento, Barceló contou ter achado a luz do deserto africano tão intensa a ponto de as coisas desaparecerem e de suas sombras se tornarem, na verdade, mais fortes. “O que não é tem mais intensidade que o que é”, disse ao poeta e crítico Enrique Juncosa em 1999. Acompanhando, há tempos, o trabalho do artista, Juncosa assina o texto do livro Miquel Barceló (Edições Pinakotheke, 202 págs., R$ 89), a ser lançado junto com a mostra e que traz também entrevista com o pintor feita por Adriano Pedrosa.

Marinhas

Uma das novidades da exposição de Barceló é a série de pinturas brancas, inspiradas nas praias. Criadas nos últimos três anos, com pigmento vinílico que ele próprio prepara, essas obras, quase puras, são a representação de ondas ou das marcas da água do mar sobre a areia. “Nasci numa ilha”, diz.

Figurativas – para ele -, essas criações são feitas de camadas de reverberações (do ritmo da água), que, por vezes, formam círculos, inspirados nas arenas de touros. “A série começou com marinhas e depois pensei que continuar infinitamente a linha do mar seria chegar ao círculo. Acabaram sendo espaços que contêm o mundo, o mundo em expansão”, explica Barceló. Lembra Juncosa que o pintor recorre ao branco em sua trajetória “com vontade de fazer a ‘tábula rasa’, de voltar para o início, como se fosse possível esquecer da quantidade retumbante de imagens criadas por ele”.

Interessante, assim, ver de frente para essas telas as “comidas” e a explosão da cor nos quadros Tomate Coeur de Baleine e Quatre Coupées. “Todas as minhas obras são experimentais”, define o pintor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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