Escultura de 15 metros manterá viva a lembrança do Pan do Rio

Os Jogos Pan-americanos do Brasil de 2007 representaram conquistas e vitórias em vários aspectos para o povo brasileiro, muitas das quais tenderão a cair no esquecimento coletivo. Mas se depender do artista plástico Kenji Fukuda, o evento multiesportivo realizado no Rio de Janeiro será lembrado pela eternidade. Foi ele quem construiu o monumento em homenagem ao Pan, localizado na Avenida Abelardo Bueno, mais conhecida como "Boulevard do Pan", na Barra da Tijuca. A escultura, que tem 15 metros de altura e pesa nada menos que cinco toneladas, pode ser vista de longe, até mesmo à noite. Chama a atenção pela beleza, tamanho e complexidade.

A escultura é considerada por críticos de arte como uma das mais elaboradas do país. Segundo o jornalista Mário Margutti, trata-se de um exemplo da liberdade de expressão plástica dos artistas contemporâneos. Ela passa uma mensagem composta por signos diversos, como paz, terras brasileiras e pureza dos atletas. Embora tenha se dedicado exclusivamente à linguagem abstracionista, nos últimos anos, tanto no campo da pintura como no da escultura, Fukuda optou por criar uma peça mais acessível ao grande público "Por isso, os corpos dos atletas que estão na parte inferior da escultura são figurativos e realistas, traduzindo a vontade do artista de expressar o vigor físico e as atitudes que marcam o empenho dos campeões", observa Margutti.

Acima desses corpos, está uma revoada de pombas, já em desenho mais estilizado, representando simbolicamente a paz que o esporte promove entre os povos. Em seguida, um globo terrestre, no qual se vê em alto relevo apenas os continentes americanos, de ambos os lados, demarcando a região geográfica das competições e amplificando a potência estética da obra, pela inserção dessa massa esférica. Foi somente na parte superior de toda a escultura que Fukuda fez menção à sua linguagem abstrata, na chapa de aço recortada, cujo azul é uma metáfora visual do céu do Rio de Janeiro. O conjunto é uma obra que mescla, portanto, diferentes expressões de um mesmo artista.

Para Kenji Fukuda, criar um monumento de tal complexidade e porte representa o sonho de qualquer artista plástico. "Vai ficar para a história. Monumentos menores são facilmente encontrados. Também são comuns aqueles grandes, mas não tão elaborados", observa. Sua escultura em homenagem ao PAN 2007 é um parêntesis dentro da sua trajetória, pois reflete o desafio da criação e da execução da obra mais monumental de sua carreira. Desafio vencido pelo artista, que generosamente buscou uma comunicação mais ampla com o público, ao mesmo tempo em que deixou na obra sua marca contemporânea, a assinatura de seu abstracionismo pessoal e intransferível.

À noite o monumento é iluminado, e a cor branca vai mudando gradualmente para o azul. O projeto luminotécnico foi desenvolvido por Peter Gasper. Ele e sua equipe são conhecidos por permitir um novo olhar sobre a conhecida arquitetura dos prédios desenhados por Oscar Niemeyer, no final da década de 1950, para a Praça dos Três Poderes, em Brasília. Implantada em 2005, a proposta previu a utilização apenas de lâmpadas de vapor metálico.

A obra

Foram necessários seis meses para que a escultura ficasse pronta. Foi produzida em Curitiba a pedido das empresas Carvalho Hosken e RJZ Cyrela Brazil Realty, e o transporte em caminhão demorou cerca de dois dias. Como precisou ser dividida em duas partes devido ao tamanho, foram necessárias mais duas semanas até que a montagem pudesse ser concluída no local definitivo. De tão grande, é até difícil de enxergar muito de perto. Além da riqueza de detalhes, o maior desafio foi fazer tudo em curto espaço de tempo. Cerca de 20 pessoas ajudaram na produção, mas Fukuda lembra que, conforme ia produzindo, surgiram problemas relacionados à construção e ao transporte.

"Dado o peso das partes, trabalhamos com guindastes o tempo todo, o que dificultou até mesmo na hora de ajeitar o monumento para ser transportado", conclui. A parte moderna foi revestida com chapas de aço. Do meio para baixo, o globo, pombos, atletas e rochas foram feitos de resina poliéster. A base é toda de granito.

O artista

Kenji Fukuda projetou sua arte no Brasil e no exterior graças a uma sábia harmonização do rigor geométrico com uma gestualidade orgânica e espontânea. O pai era pintor, e Kenji foi criado no meio das artes. Começou a realizar trabalhos com desenhos no início da fase adulta, quando trabalhava como publicitário. Dez anos depois começou a pintar. Pensou em fazer abstrato, mas ficou no figurativo por dez anos. Voltou para o abstrato com base, na década de 80, quando fez nome em SP.

As esculturas foram feitas pela primeira vez há 15 anos. Acha difícil quantificar o número de obras que já produziu, nem onde elas se encontram. Lembra de uma escultura que aparecia como parte do cenário do programa Sai de Baixo. Suas telas são conhecidas no exterior (Espanha, EUA), onde realiza freqüentes exposições. No fim de 2006, fez exposição em galeria de Madrid. Tem escritório em São Paulo, na Rua Bela Cintra, 282, 23, Bairro Bela Vista, mas também conta com atelier em Curitiba, onde reside há dez anos em função da qualidade de vida.

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