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Empresas criativas

Uma maneira de acompanhar, analisar e recontar a história da música é lembrar a trajetória das suas gravadoras. A 11ª edição do In-Edit Brasil, festival de documentários musicais que começa nesta quarta-feira, 12, vai por esse caminho ao reunir na sua programação três filmes sobre empresas de música que souberam caminhar por ritmos e geografias diversos para lançar artistas muito diferentes entre si, mas que chegaram aos ouvidos e corações de muita gente.

Um deles é o brasileiro Tudo Pela Música – Os 20 Anos da Deck, de Daniel Ferro. A gravadora independente fundada por João Augusto em 1998 completou 20 anos e tem no seu catálogo um currículo tão extenso quanto diverso: Falamansa, Revelação, João Donato, Alceu Valença, Black Alien, Vanguart e Pitty são apenas alguns dos nomes que definem a história da Deck – e embora o filme conte como a gravadora reuniu e trabalhou com esses artistas, seu tema principal é na verdade a relação familiar que definiu a empresa desde o início. Além de João Augusto, sua esposa, Monica Ramos, e o filho, o produtor Rafael Ramos, têm papel fundamental para o que a Deck se tornou.

“Essa viagem com a Deck me mostrou que a fraternidade com o artista pode existir mesmo um ambiente de negócios”, diz o diretor, sobre os 18 meses em que trabalhou no filme, coletando dezenas de depoimentos de artistas, produtores, jornalistas e empresários da indústria. “Ver o amor e o carinho da família, como eles se estruturaram ao longo dos anos, foi uma grande viagem astral e transformou o trabalho”, garante – numa nota pessoal, ele conta que virou pai no exato mesmo dia em que entrevistou João Augusto para o filme.

Tudo Pela Música será exibido no CineSesc (19/6, 21h15), na Cinemateca (20/6, 17h), e no Spcine Olido (23/6, 14h).

Outro filme que conta a história de uma gravadora é Blue Note: It Must Schwing, de Eric Friedler e produzido por Win Wenders. O documentário conta a saga de Alfred Lion e Francis Wolff, amigos de infância na Alemanha que saem do país com a perseguição nazista nos anos 1930 rumo à Nova York – o jazz já era uma paixão para ambos na Europa, e por meio depoimentos novos de artistas como Herbie Hancock e Wayne Shorter, produtores e jornalistas, o filme conta como chegar ao país do jazz e encontrar um ambiente pouco estruturado surpreendeu especialmente Lion, que chegou antes.

A Blue Note Records, fundada em 1939, começou a ganhar tração após uma gravação comovente de Summertime por Sidney Bechet. “A Blue Note mudou a face da música”, diz o saxofonista Lou Donaldson no filme. O filme passa no CineSesc (13/6, 19h) e na Cinemateca (15/6, 18h).

Já Rudeboy: The Story of Trojan Records, de Nicolas Jack Davies, caminha entre o documentário e a recriação cinematográfica para entrelaçar a história da Trojan Records com a da classe trabalhadora britânica nos anos 1960 – num caldeirão de ritmos jamaicanos de nomes como Lee “Scratch” Perry, Toots & The Maytals e Desmond Dekker. São três exibições: Spcine Olido (13/6, 19h), CineSesc (16/6, 15h) e Cinemateca (22/6, 16h).

O In-Edit Brasil ocorre até o dia 23 de junho e são 57 documentários, brasileiros e de fora, a maioria deles inéditos, sobre diversos assuntos relacionados ao universo musical. Nação Zumbi, Pin Ups, Banda de Pífanos de Caruaru e outras atrações também estão confirmadas no festival – a junção de música ao vivo e cinema é um fator que anima o diretor artístico do festival, Marcelo Aliche, em meio a dificuldades que eventos como o In-Edit passaram a enfrentar desde o início do ano com as mudanças nas diretrizes do governo federal para patrocínios culturais.

“Olha, está uma merda”, admite Aliche, por telefone, quando questionado sobre o assunto. “Entramos em campo bem desfalcados. Mas conseguimos apoios.” Ele ainda confirma que as previsões não são as melhores para o ano que vem. “Parece que nós (a indústria da cultura) somos inimigos do governo. A gente é toda uma indústria e é tratado como se não fosse bem-vindo. Em 2020, não sabemos como vai ser.”

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