Em busca do programa perdido

Chegar em casa, relaxar, ver televisão… Lembra quando a gente falava assim? Foi antes do controle remoto virar artigo de primeira necessidade, num tempo em que não existia a tevê por assinatura. De uns bons anos para cá, assistir à televisão virou exercício de busca sem fim, atividade irrequieta e angustiada cuja finalidade é encontrar uma atração que capture a atenção e o interesse. Não é que inexistam bons programas. O problema é descobrir onde é que estão, onde moram e a que hora chegam.

Memorizar a grade de dezenas de canais passou a ser mais uma das dificuldades dessa vida moderna tão tormentosa, em que é imprescindível não se esquecer de carregar a bateria do celular e desfragmentar o disco do computador. Para mim, só se compara à complexidade exigida pelo ato de deslindar tabelas de campeonato de futebol. Muitas pessoas, quase todas aliás, se saem muito bem diante deste problema. Eu, não.

Cogitei e experimentei algumas tentativas de solução e todas fracassaram. Gastei vários bloquinhos de post-it na esperança de me lembrar do que quero ver logo mais, à noite, daqui dois dias, na semana que vem. Ao lado da televisão, ainda há alguns quadradinhos de papel amarelo remanescentes deste período, junto com uma caneta sem tampa e mordida na extremidade. A idéia era anotar dia e hora dos programas que me interessassem no exato momento da exibição das chamadas, durante intervalos nem sempre comerciais.

Os papeluchos andaram colados pela casa toda: na porta da geladeira, no espelho do banheiro, em volta do aparelho de televisão, na cúpula do abajur do quarto. Não deu certo. Quando conseguia focar num deles, grudado em qualquer lugar, o relógio – às vezes o calendário! – mostrava que a hora já tinha passado, e com ela o programa e a promessa de desfrute.

O problema é que os papeizinhos competiam com inúmeros outros lembretes: contas a pagar, telefonemas a retornar, hora do cabeleireiro, da manicure, da reunião… e sumiam numa barafunda de cores cítricas. Tive de tentar outra tática.

Pedi a uma amiga que me ligasse sempre que o programa “x” entrasse no ar, a outra que me avisasse do programa “y”. Elas me encontraram pelo celular no cinema, na banheira, no barzinho da praça. Ou assistindo a um filme no DVD que estava em seu melhor momento e… deixa pra lá. O programa vai ficar para outra vez. Depois de meia dúzia de telefonemas, as amigas me informaram que estavam desanimadas e tinham desistido.

Foi por mero acaso que consegui ver a entrevista do Michael Jackson, em pleno Carnaval. E de Saddam Hussein, na Quarta-feira de Cinzas. Um verdadeiro golpe de sorte para quem perdeu a conta de quantas vezes pegou um programão nos créditos finais, o letreiro subindo.

É terrível estar numa rodinha de chope e não ter o que comentar sobre os assuntos televisivos da semana. Meus amigos não assistem às novelas – todo mundo sai tarde do trabalho -mas adoram televisão. Falar sobre as notícias parece assunto de serviço (sempre tem jornalista na mesa, por que será?). Não é raro que eu seja rechaçada com minhas tentativas de comentar os telejornais.

Não vi, não vi. Como é que foi?

Essa tem sido minha contribuição nas conversas. Como todo mundo sempre viu o que tinha de ser visto – a entrevista certa, o melhor documentário, o episódio de “Sex and the City” mais hilário do mês – tenho certeza absoluta de que o problema é meu, só meu. Rita Lee, por exemplo, não perde coisa alguma. Está sempre por dentro das fofocas das celebridades, dos temas polêmicas como o comportamento do Dhomini ou a performance do Lacraia e a sua egüinha Pocotó. E ainda comenta controvertidas entrevistas sobre a guerra no Iraque que a CNN mostrou. Não quero mais ficar sem assunto.

Hei, alguém aí tem problema parecido? Escolhi justamente esse tema por causa da recomendação clássica de que o bom jornalismo deve se pautar pela prestação de serviço. Mas, uma vez na vida, sonho com o caminho inverso. Imagino que, se você tem um método sigiloso e eficaz para decorar a programação da tevê a cabo, talvez possa me contar. E-mails para tvpress@tvpress.com.br, por favor.

* A jornalista Mônica Waldvogel apresenta o “Saia Justa”, às quartas-feiras, no canal GNT, às 21:30 h..

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