Em busca da irreverência perdida

São Paulo – Mal botou o nariz para fora do porão e um divertido trio paulistano virou a salvação da safra. A gente já cansou de ouvir isso sobre uma penca de grupos que, mal baixada a poeira do hype, deram lugar a outra sensação do século. Lembra do Happy Mondays? Quer apostar no Rapture? Viu no que deu os Raimundos? Pois “a melhor banda de todos os tempos da última semana” em São Paulo é Los Pirata.

Não que façam muito esforço para isso. O que eles querem é apenas se divertir e levar o público no mesmo embalo. Só que no caso a onda de badalação leva a alguma praia própria para banhos. “É sinal de que estamos fazendo a coisa certa”, diz o guitarrista Paco Garcia. “Para quem não nos conhecia pode parecer coisa de última hora, mas estamos aí há três anos.”

Os piratas estarão se apresentando hoje em São Paulo. Pode apostar que vale a pena. Além de todo o repertório do CD En Una Onda Neo-Punque, que dura pouco mais de 36 minutos, eles tocam músicas inéditas que entrarão no próximo, e versões de Blackbird, dos Beatles, e Run Devil Run, de Paul McCartney.

A influência está na cara. Há quem identifique também algo de Pixies e Jimi Hendrix no som sintético do trio. Mas são apenas partículas de um “pacotão fechado”, que engloba country (na levada da guitarra), punk (na atitude, na velocidade e na praticidade), surf music (na pegada dançante e na inconseqüência) e um senso de humor (inclusive na pronúncia propositalmente pastosa do vocalista) incomum para as bandas de rock atuais.

O uso do portunhol nas pândegas letras, hai-cais de non sense, tem um subtexto bem-intencionado: “É uma tentativa de aproximar a realidade brasileira da latino-americana”, sugere Paco. “Conheço muitos argentinos e uruguaios, mas sinto que há uma barreira muito grande no Brasil em relação a eles. A gente só perde com isso”.

Plástico

Apesar de ter no set uma bateria infantil de plástico, Paco (alterego de João Erbetta), o baixista Marcelo Effori (vulgo Loco Sosa) e o baterista Sérgio Villaça (ou Jesus Sanchez) são músicos calibrados e já tocaram com Arnaldo Antunes e Moisés Santana, entre outros. En Una Onda Neo-Punque é para lá de básico, da capa ao conteúdo, mas tem estofo. “Faço tudo o que sempre gostei no rock, que é essa coisa descompromissada, da diversão”, diz o guitarrista Paco Garcia. “De uns tempos para cá artistas e jornalistas vivem fazendo elucubrações profundas para justificar certas coisas. Perderam aquela graça inicial do rock. Para nós o que vale é o punch, a simplicidade. Não dá para levar a sério”. Como diz uma de suas letras… no sei… talvez… quien sabe? (LLG)

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