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Edição homenageia a Espanha e leva 43 espetáculos a Santos

É na vertigem da história que o teatro encontra seu legítimo lugar. Ao menos isso está presente na 4.ª edição do Festival Ibero-americano de Artes Cênicas de Santos, que lançou sua programação nesta quinta, 11. A mostra, que será realizada entre os dias 8 e 18 de setembro, tem 43 espetáculos, sendo 28 produções internacionais, entre elas, O Que Eu Farei com Esta Espada?, o mais recente trabalho da radical Angélica Liddell.

A montagem estreou, em junho, no Festival d’Avignon e se inspirou na França inflamada pelos últimos ataques terroristas. Na peça, a encenadora recorda dois episódios de violência ocorridos em épocas diferentes, em Paris: o canibalismo do universitário japonês Issei Sagawa, que esquartejou a colega de curso, em 1981, e os ataques ao teatro Bataclan e nos arredores da cidade, em 15 de novembro do ano passado, que deixaram mais de 130 mortos. “É uma característica da artista buscar poéticas em temáticas duras como essa”, explica o curador da mostra e diretor do Sesc, Danilo Santos de Miranda.

Nesta edição, a Espanha, a homenageada da vez, mostra oito espetáculos que vão ser apresentados em Santos e mais quatro cidades da baixada. Na montagem intitulada 4, que abre a mostra, o diretor Rodrigo Garcia constrói uma montagem aparentemente desconexa, com direito a imagens de galos calçados com tênis, minhocas presas por plantas carnívoras e elementos da cultura pop. Na peça, que estreou em 2015, o coletivo La Carnicería transforma o palco em um manifesto contra a fabricação de imagens pela publicidade e indústria da beleza.

Para Miranda, o cenário político mundial tem fomentado tais criações, seja no drama da imigração, como também no protagonismo de assuntos conservadores. “É um onda que tem nos impressionado, ainda mais nos Estados Unidos e na Europa.”

No trabalho dos mexicanos da Compañía Titular de Teatro de La Universidad Veracruzana, a instalação cênica de Psico/Embutidos propõe uma simulação do sistema digestivo humano, cujo “alimento” é o público, que será deglutido ao transitar pela estrutura de 8 metros de altura. “A busca é por espetáculos que trabalham esse hibridismo com o teatro e outras artes”, pontua Miranda.

A curadoria nacional traz a continuidade de projetos que estrearam em outras ocasiões, como A Comédia Latino-Americana, segunda parte da investida de Felipe Hirsch em pesquisar a literatura do continente. Em março, o diretor estreou A Tragédia Latino-Americana no Sesc Consolação, durante a Mostra Internacional de Teatro de São Paulo. Outra estreia é a adaptação de Leite Derramado, obra de Chico Buarque, pelo diretor do Club Noir, Roberto Alvim. “São espetáculos que se aprofundam na compressão das condições históricas do Brasil e do nosso continente, particularmente pautados pela literatura produzida”, explica ainda Miranda.

Há também montagens brasileiras que estrearam há alguns anos e se consolidaram em longas temporadas pelo Brasil, como Sua Incelença Ricardo III, dos Clowns de Shakespeare (2010) e montagens mais recentes, como o Caranguejo Overdrive (2015), dos cariocas de Aquela Companhia, e o último trabalho de Antunes Filho, em Blanche sobre Um Bonde Chamado Desejo. Miranda explica que se trata do desejo de revelar peças para a produção estrangeira. “É uma chance de expor trabalhos relevantes e, quem sabe, exportar nossas criações.” Paralelamente à mostra, o festival prepara uma série de atividades formativas, como debates com artistas e laboratórios criativos, entre eles o trabalho do performer argentino Santiago Cao.

Em comparação com a edição anterior, o Mirada manteve a média de espetáculos, foram 40, em 2014, sendo 25 produções internacionais. Danilo Santos de Miranda afirma que o espaço entre as duas mostras e as variações de moedas estrangeiras favoreceram a organização da programação. “Sem fazer nenhuma associação com o atual cenário político, a baixa do dólar equilibrou as despesas e favoreceu a realização do festival”, acrescenta.

A venda de ingressos começa nesta de sexta-feira, 12, às 15 horas, no site do Mirada, e às 17 h nas unidades do Sesc Santos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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