Dos muros para as galerias

Nos últimos anos, os pichadores tomaram Curitiba de assalto. Do centro à periferia, poucos são os muros ou fachadas ainda imaculados. Nos grandes centros, o antídoto ao emporcalhamento é um outro tipo de “pichação”, que também usa a tinta spray como ferramenta: o grafite. Em São Paulo, é comum a contratação de grafiteiros para “decorar” muros e fachadas, pois os pichadores costumam respeitar desenhos alheios.

Uma amostra dessa manifestação artística, essencialmente urbana e contemporânea, estará a partir das 19h de hoje no hall do Sesc da Esquina: é a exposição Retalhos, do artista plástico Marco Jacobsen, cartunista e ilustrador de O Estado, que reúne treze telas com diversas texturas em grafite, formando grandes obras em patchwork. A mostra faz parte da campanha Pichação é a maior sujeira, promovida pelo Sesc, e permanece até o final do mês em Curitiba. Na seqüência, percorre o interior do Estado.

Produzidas nos últimos meses, as obras exploram técnicas emprestadas da arte urbana para retratar um trabalho minucioso, fincado no universo popular: o ato de remendar recortes de diferentes estampas e tonalidades para contar uma ou mais histórias. “Cada obra tem sua individualidade, mas, uma vez juntas, formam uma única obra compondo uma imensa colcha de retalhos”, define o artista.

As cores são vibrantes, o traço carregado, o que denuncia a herança do cartum. Marco experimenta uma nova fase na sua produção artística, com severos personagens populares contrastando com a alegria das cores. “Eu quis unir o colorido ao popular e acabei me surpreendendo com o resultado, com a força que o contraste de cores deu à proposta”, conta. “Gosto de misturar diferentes técnicas e testá-las em materiais diferentes daqueles onde geralmente são aplicadas”.

Essa versatilidade aparece nas técnicas de gravura, no uso de máscaras e no fundo colorido, que lembram tecidos, engrenagens ou azulejos. Em primeiro plano, silhuetas recortadas de figuras populares – artistas, operários, trabalhadores braçais, prostitutas. “Eu já tinha um projeto de retratar trabalhadores”, explica o artista. “Acabei relacionando com a colcha de retalhos, que não podia deixar de estar acompanhada de figuras humanas, por ser um trabalho popular”.

Paralelamente à exposição, o Sesc estará lançando materiais didáticos da campanha contra a pichação. Com seu trabalho, Marco Jacobsen tenta mostrar as infinitas possibilidades do grafitismo como forma de arte.

***

O coquetel de abertura, às 19h, deve contar com a apresentação do sanfoneiro cego conhecido como Seu Floriano – ícone dos artistas de rua que se apresentam na Rua XV.

Voltar ao topo