Dormência na cultura da macieira

A fruticultura é uma das atividades agrícolas mais rentáveis e está difundida em todo o território brasileiro com uma grande diversidade, de acordo com as especificidades regionais. Apesar de haver a predominância do clima tropical no Brasil, na região Sul a fruticultura de clima temperado tem grande importância e possibilita o atendimento de parte do mercado nacional e uma porção do mercado externo.

Para o sucesso da exploração de frutas de clima temperado, principalmente das espécies exóticas, muitos cuidados devem ser reservados na aplicação de tratos culturais para a boa formação da planta e o favorecimento à floração e frutificação. Dentre estes tratos culturais, a quebra de dormência é um dos mais importantes, especialmente para a cultura da macieira, cuja adaptação está mais sujeita às variações das condições de cultivo.

Uma macieira sem uma brotação homogênea torna-se pouco produtiva e este fato pode prejudicar inclusive colheitas futuras. Desta forma, uma atenção especial deve ser dada a esta fase da planta que, apesar de bastante estudada, ainda não é bem compreendida.

Diversas técnicas que visam à superação da dormência têm sido aplicadas com sucesso em pomares comerciais, porém os mesmos tratamentos não induzem respostas semelhantes em anos diferentes ou em plantas em condições de crescimento distintas. Isto reforça a suposição que esta fase pela qual a planta passa está relacionada a diversos fatores, sejam eles ambientais ou inerentes à planta como um todo ou à regiões específicas da planta e suas relações com outras regiões mais ou menos próximas.

Em pomares de maceira é comum ocorreram brotações ou emissão de flores e frutos extemporâneos, demonstrando um desequilíbrio da planta. Numa árvore em produção, a uma distância muito curta de frutos maduros, pode-se encontrar gemas paralisadas que não conseguiram expressar seu potencial de crescimento ou não estavam totalmente adaptadas na época de brotação natural. Da mesma forma, em ramos velhos, encontram-se gemas que não brotaram na primavera seguinte à sua formação e jamais voltaram a brotar, permanecendo dormentes na planta por muitos anos. Por outro lado, a poda de ramos velhos, como a poda de renovação, permite que essas gemas dormentes se desenvolvam por muitos anos.

Esta diferenciação de capacidade de brotação ocorre inclusive nos meses de outono e inverno, quando a planta está em dormência. Gemas destacadas da planta e mantidas em condições ótimas para crescimento, muitas vezes brotam mesmo que estivessem destiandas a permanecer dormentes na planta na primavera seguinte.

Atualmente, a elevada importância econômica da cultura da maceira e outras frutíferas de clima temperado faz com que aumentem os cuidados na execução de tratos culturais no pomar. A ocorrência de falhas na quebra de dormência pode acarretar em perdas de rendimento de frutos. Sendo estas frutíferas exóticas no Brasil, a sua fisiologia também deve sofrer alguma alteração que modifique os marcadores de início e fim da dormência. Assim, os parâmetros atuais para avaliação da dormência, como a quantificação de frio ocorrido, são insuficientes para definir com precisão a dinâmica da dormência, de forma que pesquisas que objetivam conhecer os mecanismos fisiológicos que ocorrem durante esta etapa têm sido muito valorizadas.

Neste sentido, uma pesquisa foi realizada com material vegetal coletado em um pomar comercial na Fazenda Agropecuária Boutin, em Porto Amazonas-PR. As análises foram conduzidas em laboratórios dos Departamentos de Fitotecnia e Fitossanitarismos, Solos, Bioquímica e Química da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Foram estudadas a morfologia e a intensidade da dormência de gemas de um e dois anos de macieira da cultivar ‘Imperial Gala’. Além disso, foram realizados vários testes bioquímocos para fracionamento dos carboidratos solúveis presentes nos tecidos e o monitoramento do teor de unidade, cálcio, magnésio e fósforo, relacionando-se todas estas variáveis com as fases da dormência. A partir destes resultados, foi formulada uma proposta da dinâmica destes componentes em gemas e ramos durante a dormência.

Concluiu-se que existem alterações importantes no conteúdo de carboidratos e proteínas nos tecidos vegetais durante o período de repouso (outono/inverno), sugerindo que cada gema da planta tenha um mecanismo fisiológico específico. Uma boa produção de frutas é conseqüência de alterações fisiológicas nas gemas, individualmente, que conduzem a planta como um todo, a uma brotação uniforme. Tais conclusões, representam contribuição importante para o avanço no entendimento do fenômeno da dormência, incitando novos estudos. As informações obtidas como resultado deste trabalhos são de extrema importância para o redirecionamento do enfoque de pesquisas relativas à dormência de frutíferas temperadas cultivadas no Sul do Brasil.

Ruy Inácio Neiva

de Carvalho é doutor em Ciências e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).

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