Documentário ‘Cássia’ é o grande vencedor do Fest Aruanda

Cássia, documentário de Paulo Fontenelle sobre a cantora Cássia Eller, foi o grande vencedor do 9º Fest Aruanda. O filme recebeu também o prêmio do público e mais uma bizarra menção do júri pela personagem – a própria Cássia que, ao deixar estabelecido que, em caso de morte, o filho fosse criado por sua companheira Eugênia, abriu caminho para um importante precedente jurídico no Brasil. Com qualidades, o filme baseia-se em farto material audiovisual que registra a trajetória da roqueira e mais entrevistas com conhecidos, familiares e especialistas. É bom. Daí a ganhar festival, vai certa distância.

Ausência foi muito bem premiado, saindo com os troféus de direção (Chico Teixeira), roteiro, ator (Matheus Fagundes) e mais o prêmio da crítica, organizado pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Com seu trabalho de ficção sobre a trajetória de um adolescente, filho de família disfuncional, parece o mais completo de todos apresentados na competição. Por sorte, a crítica soube reconhecer isso.

O Fim e os Meios, filme em de Murillo Salles discute a gênese do processo de corrupção no Brasil, ganhou o prêmio de atriz (Cinthia Rosa). Murilo busca uma estética escura para uma situação moral obscura. A estratégia às vezes dá certo, mas nem sempre. O filme é inteligente, mas às vezes coloca uma barreira intransponível entre ele e o espectador.

O experimental Pingo D’agua, de Taciano Valério, ganhou o prêmio de melhor fotografia. Aqui se tem uma tentativa de lidar já não com uma narração, mas com um não-sentido. Uma radicalidade que cobra seu preço.

Luneta do Tempo, de Alceu Valença, ficou o prêmio de trilha sonora, do próprio autor. Tem mais virtudes que a música que, sim, é premiável.

Entre os longas, saíram sem qualquer menção Campo de Jogo, de Eryk Rocha, e Para Sempre Teu, Caio F., de Candé Salles. Caio F., ao contrário do seu personagem, é bastante convencional. Já com a ausência de qualquer menção a Campo de Jogo, cometeu-se a maior injustiça do festival. O filme de Eryk é, desde já, um dos mais bonitos poemas visuais sobre o futebol já feitos no País. Aliás, fala do País através do futebol.

Na seção de curtas-metragens, o destaque ficou para Preto ou Branco, com os troféus de melhor filme, diretor, montagem e som. Com sua estética à la Tarantino, o filme é apenas bem-feito e olhe lá. Havia opções melhores.

O curta A Ilha ficou com o prêmio de melhor curta paraibano, roteiro e fotografia, além do troféu da crítica.

No todo, foi uma boa edição do Aruanda. O nível médio, em especial o dos longas, foi alto. Foi oferecido ao júri um leque de boas opções para premiação. Se ele não a aproveitou e produziu um resultado apenas aceitável, a culpa foi só dele. Material para trabalhar o júri tinha.

No último dia, foi emocionante a homenagem aos 80 anos (que se completam em janeiro de 2015) ao grande documentarista paraibano Vladimir Carvalho. Centro de uma mesa de debate sobre sua obra à tarde, à noite o cineasta recebeu de colegas locais o troféu Pedra Bonita. Foi bonito.

O festival cresceu e enfrenta os desafios de chegar à adolescência. Os problemas com detalhes técnicos de exibição, com esse fantasma que são as cópias digitais que não “abrem”, causaram atrasos e cancelamentos nas sessões. Para chegar a uma maturidade sadia é preciso domar esses problemas antes que se tornem crônicos. Nada de tão complicado: apenas obter as cópias com antecedência e testá-las para ver se funcionam. Fora isso, foi um belo festival.

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