Se você não viu da primeira vez, tem agora a oportunidade única de conferir um espetáculo mágico, tirado do fundo da alma dos dois artistas: o cantor paranaense Juarês de Mira e o pianista Lázaro Wenger apresentam novamente hoje às 20h30, no Teatro da Reitoria, em Curitiba, o show Negro Spirituals e Outras Canções – Um Tributo a Paul Robeson. A realização é da Associação de Coordenação e Desenvolvimento de Arte e Cultura Acord, e os ingressos custam 10 e 5 reais.
São 19 músicas, assinadas por gente como Harry T. Burleight, Rosamond Johnson, Lawrence Brown, Jerome Kern, Stephen Foster, além de duas canções irlandesas e uma escocesa, pinçadas ao longo de dois anos em que Juarês de Mira se debruçou sobre a vida do cantor, ator e atleta Paul Robeson.
“Quando ouvi O?l Man River pela primeira vez, tive a sensação de que esta música sempre estivera perto de mim, era parte de mim”, conta Juarês. “Embora seja uma música que retrata a realidade negra norte-americana, eu parecia estar intimamente ligado a ela. E isso me estimulou a saber um pouco mais da música e da voz que tanto me fascinava.”
E prossegue: “Se ele fosse somente um cantor, com o potencial vocal que desfrutava, já valeria a pena homenageá-lo. Mas Paul Robeson era muito mais que isso. Foi um ferrenho defensor dos direitos humanos, da igualdade racial, e usava todo o poder que a fama lhe dera (e foi um dos norte-americanos mais famosos do mundo), para denunciar que seus irmãos negros eram constantemente discriminados, que os judeus estavam sendo perseguidos na Alemanha nazista, que mineiros da Grã-Bretanha eram explorados e muitas outras barbaridades”.
Mesmo tendo o seu passaporte revogado e sido impedido de se apresentar na maioria das salas de concerto, continuou a trabalhar pela paz com outros companheiros. Entre esses “companheiros” estão ícones do século XX, como Eisenstein, Nehru, Emma Golman, Gertrude Stein, Jomo Kenyatta, Ernest Hemingway, Pablo Neruda, Albert Einstein e Howard Fast.
Outras artes
Além da música e da militância política, Paul Robeson brilhou em outras artes: foi o primeiro ator negro de expressão em Hollywood – o que lhe valeu um lugar na Calçada da Fama -, um dos primeiros atletas negros no futebol americano profissional e o terceiro negro a graduar-se pela faculdade de Direito de Columbia. Morreu em 26 de janeiro de 1976, aos 77 anos de idade, na Filadélfia.
As canções conhecidas como negro spirituals surgiram originalmente como manifestações tradicionais da comunidade negra norte-americana, uma forma de atenuar o sofrimento no período da escravidão. Mas também eram as músicas do dia-a-dia, entoadas enquanto remavam, trabalhavam nas lavouras ou participavam dos cultos religiosos. Sobre a escolha das canções, Juarês optou por várias que já estavam no seu imaginário: “O?l Man River, My Old Kentucky Home, Loch Lomond, John Brown?s Body, Deep River e outras, que ao ouvir, muita gente vai reconhecer”, garante.