| Espetáculo de dança contemporânea mexe e explora as bailarinas. |
Estréia dia 10 de março, no Espaço Cultural Odelair Rodrigues, o espetáculo Ditado no escuro, direção corporal de Marila Velloso e direção geral de Marila Velloso e Flávio Stein. Dança contemporânea sempre é um negócio complicado. Coreógrafos e bailarinos correm riscos constantes por andarem em cima de uma linha tênue que divide o brilhantismo da ridicularidade.
O propósito deste espetáculo é relacionar diversos olhares: o social, o pessoal, as relações do ser humano com o universo, com a arte e com as características do mundo contemporâneo.
O ponto de partida para a montagem do espetáculo foi a vida e a obra de Clarice Lispector e Marguerite Duras, duas mulheres corajosas e de personalidades fortes, que viveram uma riqueza de emoções e sentimentos provenientes de vidas não adaptadas ao sistema. “A idéia central para a montagem foi Clarice e Duras, mas o espetáculo não fala exatamente delas ou de suas obras. Refletimos sobre elementos que se relacionavam com o material das duas e que diziam respeito também às experiências das intérpretes e com o universo como um todo”, afirma Flávio Stein. Bem apropriado para a ocasião.
Em cena, duas bailarinas e uma atriz dançam as emoções da pós-modernidade, desde sentimentos de solidão e melancolia até aspectos como a globalização, o imperialismo, o acesso a informações fabricadas. O processo criativo autoral junto ao estudo dos ossos e órgãos, sistema estudado recentemente por Marila nos Estados Unidos, possibilita uma compreensão da estrutura e do conteúdo corporal. Essa dinâmica inovadora da estética dos movimentos pretende ir mais ao fundo de todas as possibilidades do dançarino profissional.
Nesse caso, provoca as protagonistas e exige delas o máximo do corpo descobrindo do interior para fora cada um de seus recursos, como ensinou o mestre Stanislavsky.
Marila está se formando como professora de Educação Somática pelo sistema Body Mind Centering (BMC), criado por Bonnie Bainbridge Cohen há trinta anos, mas que só agora está começando a chegar no Brasil. “O BMC é um sistema mais humano e democrático porque trabalha com todos os sistemas do corpo, sem hierarquia. Para o espetáculo, partimos dos ossos, que dão estrutura e forma, e dos órgãos, responsáveis pelas emoções e memórias emotivas”, diz Marila.
Ditado no escuro ainda sugere um diálogo entre movimento, fotografia, projeção de vídeo, iluminação e música, abrindo espaço para o imaginário de cada espectador. Flávio Stein diz que há muito tempo aposta no multidisciplinar, na junção das linguagens artísticas e que o vídeo é mais uma forma de desenvolver a narrativa. “O vídeo foi uma exigência, uma conseqüência natural do processo”, afirma.