Diogo Vilela diz que o tipo de humor de As 50 Leis do Amor é o seu preferido

Poucas vezes Diogo Vilela esteve tão animado com um trabalho na tevê quanto agora, ao interpretar o ator Tadeu no quadro As 50 Leis do Amor, do Fantástico. A empolgação com o humor de Alexandre Machado e Fernanda Young é tão grande que despertou no ator o desejo de ter um programa próprio – assinado pela dupla, claro. “Desde que gravei a primeira participação em Os Normais, falei: ‘Esta é minha praia, eles escrevem do jeito que eu sinto'”, conta, com um largo sorriso. O tal “jeito” tem a ver com uma visão mais humana dos personagens. E com uma graça que vem dos sentimentos.

“O Tadeu tem a ingenuidade dos comediantes. O sonho da criação é tão grande que ele acha que pode trabalhar com a atual e a ex-esposa e vai ficar tudo bem”, exemplifica, destacando o estranhamento da situação, levada à cena ao lado de Débora Bloch e Andréa Beltrão.

“O mais importante é trabalhar num tipo de humor que é exatamente o que sinto. Acho o humor psicológico muito interessante, porque mostra o ser humano na sua verdade. É com isso que o Alexandre e a Fernanda trabalham”, comenta. “Além disso, eles captaram uma coisa da realidade do ator que quem está de fora vê bem melhor do que quem está vivendo – a contradição entre o que aparece na cena e o que o ator vive nos bastidores. Eles perceberam esse gancho para um humor muito moderno e criativo.”

Aos 46 anos e 35 de carreira, Diogo mantém o ar reservado e a indisfarçável timidez, que chega a incomodá-lo – “às vezes me exponho errado, ou falo muito”, justifica. Mas já se sente mais seguro no trabalho. Tanto que a idéia de comandar um programa de humor, que ele espera colocar em prática ano que vem, não seria bem-vinda há algum tempo. “Já tenho mais domínio da minha insegurança com a aceitação do público”, confessa, com naturalidade.

A passagem do tempo não foi a única responsável pela mudança. Diogo não esconde o orgulho ao dizer que optou pelo caminho mais difícil. O humor, que marcou sua trajetória na tevê – em tipos como o paranormal Uálber, de Suave Veneno, ou os personagens da TV Pirata -, é apontado como seu tom natural. Mas ganhou a companhia do drama e até da tragédia no teatro, com textos de William Shakespeare, Nicolai Gogol e Anton Tchekov. “Se fosse investir apenas no humor, jamais teria credibilidade para fazer esses textos”, pondera, incisivo. É a esse percurso que ele atribui a tranqüilidade de esperar que Alexandre e Fernanda queiram abraçar o projeto de seu programa. “Os autores criam em cima do que a gente pode traduzir. Fazendo o quadro, acho que já posso inspirá-los a criar outras coisas”, aposta, animado.

Memória de sentimentos

Quando pensa em sua carreira na tevê, Diogo Vilela imediatamente lembra os personagens de Sílvio de Abreu, em novelas como Guerra dos Sexos, Sassaricando e As Filhas da Mãe. “Tenho um carinho especial pelas novelas do Sílvio, pelo carinho que ele teve comigo no começo da minha carreira. Essas coisas a gente não esquece”, ressalta, emocionado. Mas Diogo também não consegue esquecer o paranormal Uálber, de Suave Veneno, escrita por Aguinaldo Silva em 1999. “Era o tipo do personagem que tinha a minha cara”, define.

Os tempos do humorístico TV Pirata também são lembrados com saudades. Débora Bloch, atual colega de cena em As 50 Leis do Amor e na recente temporada de Tio Vânia, também estava lá. “Temos uma relação de admiração que se traduz numa vontade de querer fazer as mesmas coisas”, tenta explicar Diogo, que faz mistério sobre o próximo projeto teatral

Com os olhos na arte

Desde as mais remotas lembranças que tem da infância, Diogo Vilela se julga um observador nato. Nas festas de família, o passatempo predileto era “fazer uma síntese” dos mais variados tipos de “personagens” – os tios e tias, ricos e pobres, trabalhadores e fazendeiros. “Não fico olhando ninguém com olhar crítico, mas capto os sentimentos, como por osmose”, explica. É a esta incorrigível mania de observar que Diogo atribui a capacidade de “monitorar” o próprio trabalho. “Faço e me observo o tempo todo”, destaca o ator. No começo da carreira, a insegurança impedia que ele tirasse maior proveito da situação. “Não sabia se meu espírito crítico estava agindo bem, ou se era apenas uma pessoa se criticando. Hoje, não duvido mais do meu ponto de vista”, assegura o ator.

De fato, os 35 anos de carreira já lhe “autorizaram” até duas experiências como diretor no teatro. A primeira foi em Jornada de um Poema, com Glória Menezes, e a segunda no musical Elis, Estrela do Brasil. “Foram experiências maravilhosas. ‘Elis’ foi mais sofrido, porque peguei um mito brasileiro e dei minha visão sobre ele. Fui ingênuo”, avalia, sem esquecer de reforçar sua própria teoria sobre a ingenuidade dos atores. A certeza, no entanto, não foi abalada. “Serei um diretor de atores”, garante Diogo, determinado. E não perde a oportunidade de avaliar tudo isso de um ponto de vista mais “artístico”. “A direção é o complemento do meu lado racional como artista, enquanto o trabalho de intérprete é a extroversão da minha intuição”, filosofa.

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