Dialogar com as ruas é o caminho para cidades do futuro

A arquiteta e urbanista franco-brasileira Elizabeth de Portzamparc reuniu-se no dia 29 de dezembro com o secretário de Desenvolvimento Urbano de São Paulo, Fernando de Melo Franco, a convite da Prefeitura, para propor soluções para questões urbanísticas da metrópole, tais como o transporte público, a flexibilização de espaços e a sustentabilidade. Na ocasião, ela falou ao jornal O Estado de S.Paulo. Entre outras coisas, a arquiteta defende que a criação de corredores de ônibus pela cidade pode ser “uma agressão enorme às identidades específicas de cada bairro ou setor” da cidade.

“Não é só ter os corredores do ônibus. O fato é que eles são acompanhados de verticalidade excessiva, o que vai gerar paredões construídos ao lado desses corredores, uma verticalidade contínua.”

A urbanista, que tem escritório em São Paulo desde agosto, diz é impossível imaginar um corredor que vá atravessar a cidade sem se inserir nem dialogar com cada bairro que estará atravessando. “Cada bairro é diferente. Criar um corredor que atravesse verticalmente a Vila Madalena é um crime urbano”, afirmou a arquiteta.

Se tudo ao redor dos corredores de ônibus se tornar muro, lobby ou hall de edifício, sem diálogo com o espaço público, as ruas se tornarão “mortais para a escala humana”, analisa Elizabeth.

Ela preconiza a instalação de espaços flexíveis, pequenos comércios, ateliês e serviços pelo poder público ao longo dos eixos, para requalificar os espaços. “Aos poucos, as ruas se tornaram um espaço não praticável, espaços escuros, sem vida, que geram violência. Não podemos construir mais para os próximos anos, mas para as próximas décadas. Temos que prever como serão as cidades do futuro”, afirmou.

A urbanista fez críticas públicas ao modelo de adensamento e verticalização do Plano Diretor de São Paulo, que dispôs 500 milhões de m² para construções ao longo dos eixos, “sem limites de estoques construtivos e sem diferenciar as regiões da cidade do ponto de vista ambiental e urbanístico”.

A arquiteta crê que não basta apenas repensar o espaço físico da cidade, mas também “as políticas de gestão e controle” dos locais abertos pelo novo urbanismo. Seu estabelecimento em São Paulo é mais um lance do desembarque de “grifes” internacionais da arquitetura nas grandes cidades brasileiras – já estão no País Herzog & de Meuron, Santiago Calatrava, Diller, Scofidio & Renfro e Zaha Hadid, entre outros.

“Para a arquitetura moderna brasileira, a influência e os impactos da vinda de (Gregori) Warchavchik e de Le Corbusier ao Brasil são incontestáveis”, comenta Elizabeth, que foi a responsável pelo projeto de renovação do Riocentro, no Rio, em 2005 (logo a seguir, ela parou de atuar no Brasil para concentrar-se em seu escritório na França).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Voltar ao topo