Dia de festa no picadeiro

O circo comemora o seu dia. É bem verdade que o apelo desse tipo de espetáculo perdeu muito de sua força nos últimos tempos. Assim mesmo, é raro encontrar uma criança que nunca tenha se maravilhado com um show de malabares, se surpreendido com os truques de um mágico, se assustado com equilibristas ou se divertido com as piadas de um palhaço.

No Paraná, um dos nomes mais tradicionais ligados ao circo é o da família Queirolo. Originários da Itália, os Queirolo desembarcaram no Brasil em 1917, desde então quatro gerações passaram sem se desvincular da vida circense. Filho de Ricardo Queirolo, Julião Guião, de 77 anos, iniciou-se no circo com apenas 6 anos e é o mais velho integrante vivo do grupo Irmãos Queirolo. Já foi malabarista, equilibrista, acrobata e até palhaço quando era necessário. O circo da família Queirolo parou de funcionar em 1968, quando um temporal arrasou toda a estrutura montada no bairro do Novo Mundo, zona sul de Curitiba. Aposentado há pouco mais de sete anos, seu Julião afirma que a vida circense não é nada fácil. “Além de treinar todos os dias da semana, o artista tem de ter uma atividade paralela para sobreviver”, conta.

Esse foi o caso de seu filho, Julião Antônio, 50, que além de fazer trabalhos como palhaço ou Papai Noel, também se tornou policial militar e árbitro profissional de futebol. Ele reconhece que o público de circo reduziu-se bastante nas últimas décadas, e acredita que isso se deva ao advento da televisão nos lares de família. “Antes as pessoas só tinham o circo como diversão. Depois vieram o cinema e a TV”, lembra. Ele ressalta, no entanto, que a televisão é totalmente inspirada no circo. “Basta ver os programas de humor: a maioria dos quadros e piadas já eram apresentados no tablado”, argumenta.

A prima dele, Marilene Queirolo Buch, culpa também a falta de poder aquisitivo das famílias para ir ao circo. “Um casal com três filhos gastaria cinco entradas mais pipoca e refrigerante para as crianças. Pesa demais no bolso”, declara. Marilene administra, ao lado de irmãs e do marido, um grupo circense que se apresenta em eventos e festas municipais. Segundo ela, a maioria dos espetáculos ocorre na semana da criança, em outubro, e nas festas de fim de ano. Os palhaços ainda fazem bastante sucesso com a garotada. Aliás, sobre a lenda de que em todo palhaço existe uma pessoa triste, Marilene discorda enfaticamente. “Meu tio, o palhaço Gafanhoto, tem 78 anos e não consegue ficar nem dez minutos chateado”, exemplifica.

Não se sabe ao certo quando surgiu o circo nos moldes contemporâneos. Sabe-se porém que ele herdou a tradição dos saltimbancos, artistas viajantes que se apresentavam por várias cidades da Europa. “O circo existe desde o Império Romano, só que naquele tempo os cristãos não se divertiam”, brinca Julião Antônio, fazendo menção àqueles que eram devorados por leões por causa de sua crença. Ao tentar definir o que é circo, Julião se emociona: “É a pureza do espetáculo. Mistura de magia, arte e diversão. O público vê de tudo um pouco, explorando todos os sentimentos humanos.”

A arte circense e a família Queirolo foram homenageadas há duas semanas, durante o desfile do estilista Silmar Alves, no Curitiba Fashion Art.

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