Dez anos após sua morte, mundo recorda Fellini

Dez anos após sua morte, ocorrida em 31 de outubro de 1993, a Itália e o mundo inteiro celebram a obra e a figura de Federico Fellini, o mais imaginativo dos cineastas italianos.

Inumeráveis comemorações, iniciadas já em maio passado no Festival de Cannes, recordam a obra do autor de “La dolce vita”, “Oito e meio” e “La strada”, que marcaram a história do cinema e até o léxico universal com adjetivos como “felliniano” e substantivos como “paparazzi”.

O museu Guggenheim de Nova York, por exemplo, inaugurou uma retrospectiva completa de seus filmes (restaurados pela Cinecittà Holding), que depois viajará por diversos países.

A Fundação Fellini de Rímini, cidade natal do cineasta, prepara um seminário sobre sua obra de 7 a 9 de novembro com a participação de críticos, estudiosos e cineastas de renome internacional.

Os filmes de Fellini compõem um dos conjuntos de obras mais originais da história do cinema, com uma trajetória que, partindo do neo-realismo e atravessando a comédia italiana, chegou a um enfoque primeiro realista (“La strada”, “Noites de Cabíria”) e depois surrealista (“La dolce vita”, “Oito e meio”) da sociedade italiana de seu tempo, terminando na crítica social (“Ginger e Fred) e na metafísica (“A voz da Lua”).

Dotado de um olhar que acentuava o lado grotesco dos personagens, Fellini soube descrever a sociedade italiana do pós-guerra (até remontando-se aos anos do fascismo, nas recordações de seus alter egos, o adolescente de “Amarcord” e o cronista de “A entrevista”), com seus defeitos, virtudes e obsessões, sem deixar de ser fiel ao seu próprio mundo imaginário.

Ele era também capaz de antecipar os tempos, como em “Ensaio de orquestra”, onde em 1978 alertava sobre os perigos tanto do caos como do autoritarismo, ou como em “Ginger e Fred”, onde em 1986 já denunciava os estragos da televisão comercial com um personagem diretamente inspirado no atual premiê italiano Silvio Berlusconi.

Foi um narrador da capital italiana, da qual foi hóspede e crítico ao mesmo tempo, em filmes como “Roma”, “La dolce vita” e “Satyricon”. Em “A voz da Lua” recomendava ao mundo diminuir a gritaria para que todos pudéssemos nos entender.

Fellini começou a ser aclamado com “La dolce vita”

Nascido em Rímini em 1920, Fellini chegou a Roma adolescente e ganhou a vida fazendo caricaturas para a revista “Marco Aurélio”. Também escreveu roteiros para cinema, até que conseguiu estrear na companhia de Alberto Lattuada, em “Luci di varietà”, um retrato agridoce do mundo da comédia, em uma Itália que acabava de sair de uma guerra desastrosa e que sofria com a fome e a miséria.

Graças a sua amizade com Alberto Sordi, para quem escrevia roteiros radiofônicos, Fellini realizou os primeiros filmes como solista do famoso comediante e depois se dedicou a lançar a carreira de sua esposa com “La strada” e “As noites de Cabíria” (que lhe renderam dois de seus quatro Oscar).

Foi, porém, com “La dolce vita”, imenso retrato de uma Roma em pleno milagre econômico onde se juntavam uma aristocracia decadente, novos ricos, gente de cinema, cronistas e fotógrafos, que o nome de Federico Fellini começou a ser aclamado.

Nesse período nasceu sua grande amizade com Marcello Mastroianni, que será seu alter ego em uma série de filmes, cuja influência no mundo do cinema só é comparável à de outro gigante da sétima arte, Orson Welles.

Fellini soube interpretar como poucos a alma italiana e dez anos após sua morte confirma-se como um gênio sem herdeiros, mas cuja marca é sentida em centenas e milhares de imagens “fellinianas”, em toda a cinematografia mundial.

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