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Depois do Jabuti, Silviano Santiago retorna à infância

Não foi exatamente uma surpresa quando o nome do mineiro Silviano Santiago foi anunciado, no final da noite de quinta, 30, como o vencedor do Livro do Ano de Ficção do 59º Jabuti, que lhe rendeu R$ 35 mil. Santiago vem de uma sequência de prêmios. Seu romance anterior, Mil Rosas Roubadas, venceu o Oceanos em 2015. Machado (Companhia das Letras), obra premiada agora e que acompanha os últimos momentos da vida do autor de Dom Casmurro, foi finalista de todas as premiações este ano. Levou o primeiro lugar do Jabuti de romance (R$ 3.500) e o segundo lugar no Oceanos (R$ 60 mil). Um projeto literário que, comemora o autor, está sendo reconhecido em vida.

Ao final da cerimônia de entrega dos troféus para os vencedores das 29 categorias, entre os quais estavam os cronistas do Caderno 2 Luis Fernando Verissimo e Ignácio de Loyola Brandão e o editorialista do Estado Marcos Guterman, e que prestou homenagem a Ruth Rocha, Santiago, 81 anos, disse que caminha para uma espécie de testamento.

“A palavra é essa, não posso evitá-la. Gostaria, mas não posso. Estou tentando evocar momentos extremamente importantes da minha vida, caso de Mil Rosas Roubadas, que talvez eu tenha recalcado e chegou agora a hora de escrever. Machado é uma homenagem a esse autor que tanto li e quis que coincidisse com o próprio tipo de experiência de vida que estou tendo agora.

Reencontro Machado num momento em que eu, de certa maneira, também estou sobrevivendo. Minha idade já ultrapassou a dele. Então, no lugar de pegar o Machado de Assis das grandes obras, peguei esse momento muito difícil, quando ele perde a esposa, está solitário, a doença se acentua”, disse à reportagem.

Agora, ele toma fôlego para, como diz, “trabalhar com mais coragem” a sua infância. O novo livro já tem título, emprestado de um poema de Murilo Mendes: O Menino Sem Passado. “Será um personagem que vive de maneira sonâmbula a cidade em que nasceu, Formiga, e, ao mesmo tempo, as leituras de durante a Segunda Guerra Mundial. Esse universo é amplo e muito pessoal e vai ser responsável pela maneira como organizei a minha vida – muito em cima da imaginação, da viagem, da inquietação e do desejo de sair dos limites.”

Quem também subiu ao palco duas vezes na cerimônia foi Magda Soares, 85 anos, primeiro lugar na categoria Educação e Pedagogia com Alfabetização: A Questão dos Métodos (Contexto). A obra ganhou também o Livro do Ano de Não Ficção.

“Não teremos leitores para nossos livros se não resolvermos o problema da alfabetização das nossas crianças”, disse, ao receber seu troféu. Se há esperanças de melhores índices? “O País não está avançando na alfabetização e uma das razões é que não estão preparando o professores para isso e não estão se dando conta de que o processo é esse”, respondeu à reportagem.

Mais abrangente prêmio literário, o Jabuti reconhece autores das mais diferentes áreas e profissionais do livro. Veja os premiados das categorias mais literárias.

l Romance

1º Machado, de Silviano Santiago (Companhia das Letras)

2º A Tradutora, de Cristovão Tezza (Record)

3º Outros Cantos, de Maria Valéria Rezende (Alfaguara)

l Contos e crônicas

1º Sul, de Veronica Stigger (34)

2º Se For Pra Chorar Que Seja de Alegria, de Ignácio de Loyola Brandão (Global)

3º Caixa Rubem Braga – Crônicas, org. André Seffrin,

Bernardo Buarque de Hollanda, Carlos Didier (Autêntica)

l Poesia

1º Quase Todas as Noites, de Simone Brantes (7Letras)

2º A Palavra Algo, de Luci Collin (Iluminuras)

3º Identidade, de Daniel Francoy (Urutau)

l Infantil

1º Drufs, de Eva Furnari (Moderna)

2º Se Eu Fosse… Um bicho, Uma Planta ou até um Objeto, Minha Vida Seria Muito Diferente, de Luisa Massarani (Publifolha)

3º A Boca da Noite, de Cristino Wapichana (Zit)

l Juvenil

1º Dentro de Mim Ninguém Entra, de José Castello (Berlendis & Vertechia)

2º Vozes Ancestrais, de Daniel Munduruku (FTD Educação)

3º O Caderno da Avó Clara, de Susana Ventura (Sesi-SP)

l Biografia

1º Caio Prado Júnior: Uma Biografia Política, de Luiz Bernardo Pericás (Boitempo)

2º Xica da Silva: A Cinderela Negra, de Ana Miranda (Record)

3º Enquanto Houver Champanhe, Há Esperança, de Joaquim Ferreira dos Santos

(Intrínseca)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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