Marília Gabriela rodou, rodou e voltou pela terceira vez para o SBT. Trouxe algumas alterações no velho visual do De Frente com Gabi, mas sem apresentar novidades na maneira de abordar seus convidados. O tom das entrevistas continua mais para o de um bate-papo entre amigos do que o de uma jornalista buscando declarações que fujam ao lugar-comum. Foi assim com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e a companheira de emissora e amiga Hebe Camargo. Não há dúvida de que a entrevistadora é bem mais informada sobre seus entrevistados do que Jô Soares, por exemplo. Mesmo assim, insiste em abordagens superficiais.
Na entrevista com Hebe Camargo, por exemplo, fez perguntas sem impacto, como quando a apresentadora teria aderido ao visual louro ou qual era a sua lembrança mais remota. Marília também levantou pontos que são mais do que manjados, como a passagem em que Hebe Camargo teve de ser substituída por Lolita Rodrigues na inauguração da televisão no Brasil. A apresentadora iria cantar o hino da televisão, mas pediu para a amiga ir em seu lugar porque iria se encontrar com o futuro esposo. Ao mesmo tempo, perde a oportunidade de destrinchar assuntos menos corriqueiros, como o fato de Hebe ter conseguido sucesso na carreira mesmo com apenas o primeiro grau de escolaridade completo.
Na verdade, Marília Gabriela só voltou ao SBT porque o De Frente com Gabi passou a ser produzido por ela, em parceria com a Sardinha Produções. O programa é entregue ao SBT finalizado. Com isso, a apresentadora ganha liberdade para decidir sobre o conteúdo da produção, a escolha dos entrevistados e troca um salário de três dígitos por uma participação na receita publicitária do programa. À primeira vista, parece um bom negócio para a entrevistadora e para o próprio SBT. Isso porque Marília Gabriela está conseguindo boa audiência com o De Frente com Gabi num horário em que o Jornal do SBT batia parcos dois pontos de média. Os dois primeiros De Frente com Gabi atingiram médias de cinco e seis pontos, respectivamente, e picos de 10. Com isso, o SBT aumenta a audiência do horário e se estabelece como o segundo lugar no ibope, só perdendo para a Globo.
O fato de o programa ter voltado ao SBT com formato semanal e não diário também deve ajudar Marília Gabriela a conseguir entrevistados mais interessantes. Principalmente porque a apresentadora não vai poder contar com o casting da Globo – emissora que raramente libera seus profissionais contratados para programas do SBT. A opção estratégica de Marília Gabriela foi fazer foco no telespectador paulistano e privilegiar entrevistados que tenham ligação, mesmo que efêmera ou antiga, com a capital paulista. Afinal, é de lá que saem os números do Ibope. A prova é que o programa já tem na gaveta entrevistas com Juca de Oliveira, Débora Bloch e Paula Lavigne, todos com produções estreando em São Paulo. Bairrismos à parte, para atraírem a atenção do telespectador, as entrevistas de Marília terão de fugir do clima sonolento. Afinal, o De Frente com Gabi vai ao ar à meia-noite de domingo.
Risco Jô
Comandando programas de entrevistas desde 1987, quando estreou o Cara a Cara, na Band, Marília Gabriela virou uma personalidade e extrapolou a função de jornalista. Muitas vezes, cai no mesmo erro de Jô Soares ao explicitar uma intimidade com seus entrevistados e não tirar proveito disso. Pelo contrário. Nem mesmo no Marília Gabriela Entrevista, que é exibido no canal por assinatura GNT e não teria tanta cobrança quanto a audiência, a jornalista provoca seus entrevistados com perguntas menos previsíveis. Com Murilo Benício e Dan Stulbach, últimos convidados da produção, iniciou a entrevista com a dispensável questão sobre qual dos dois seria o mais bonito. Frivolidade demasiada para quem se considera a mais renomada entrevistadora do País.