De caninos bem afiados

Ney Latorraca não via a hora de voltar a interpretar um vampiro. O estrondoso sucesso do Conde Vlad na novela “Vamp”, em 1991, deixou um gosto de “quero mais” no ator, que adora fazer personagens, como diz, bizarros. Em seu currículo, Ney se orgulha mais dos trabalhos nada comuns e dos adaptados da literatura, como “Anarquistas, Graças a Deus”, de Zélia Gattai, “Memórias de um Gigolô”, de Marcos Rey, e a recente “O Cravo e a Rosa”, baseada na obra “Megera Domada” de William Shakespeare.

E lembra com atenção especial do engraçadíssimo Barbosa de “TV Pirata”. “Eu tenho uma trajetória diferente dos outros atores. Os diretores lembram do meu nome para interpretar personagens que não pertencem ao cotidiano, difíceis de fazer”, empolga-se o ator. A competência em interpretar personagens inusitados se revela também na maneira como se transforma quando está atuando. “A partir do momento em que me caracterizo, deixo de fora a minha personalidade”, ensina. É por esse motivo que Ney afirma não precisar de inspiração ou de qualquer estudo sobre o personagem. “Inspiração vem na hora, eu invento tudo e coloco a minha criança para florescer”, sintetiza. A profissão de ator, aliás, é o que faz Ney se considerar um ser humano completo. Através dela, consegue viver fantasias e até dispensar a terapia. “O ator é um armário com milhões de gavetas. Abre uma, abre outra e vai juntando até formar alguém completamente diferente”, filosofa Ney. Mas o ator diz que a profissão não é só glamour. “Eu continuo sentindo o peso de ter que agradar ao público, vou à luta por um aplauso e por um sorriso. E irei sempre. Essa é a minha essência”, emociona-se o ator.

Com 58 anos, Ney não pensa em diminuir a rotina de trabalho. Além de “O Beijo do Vampiro” e da peça “Capitanias Hereditárias”, em cartaz no Rio de Janeiro, o ator já está filmando, ao lado de Marco Nanini, a peça “Os Mistérios de Irma Vap”. Durante 11 anos, a dupla recebeu cerca de 2,5 milhões de espectadores e agora decidiu transformar a história em um longa-metragem. “A idéia é registrar algo que foi um sucesso fenomenal, mas que muita gente não viu”, explica Ney. O filme “Mistérios de Irma Vap” é dirigido por Carla Camurati e já está em fase inicial de produção. Segundo Ney, testes de cenas já estão sendo gravados e as filmagens externas, que serão, provavelmente, em um castelo em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro, devem começar em breve. “Como sou só eu e o Nanini contracenando, as filmagens devem demorar mais”, adianta. “Os Mistérios de Irma Vap” não tem novidade em relação à peça. De acordo com Ney, a intenção é ser fiel à história original, que se passa nos anos 20 do século passado e conta com vários personagens, como uma cantora de ópera, um vampiro e um diva que se apresenta no Metropolitan, em Nova York, convivem.

Talento de berço

Filho de um “crooner” e de uma atriz de cinema e teatro, Ney Latorraca é um defensor da idéia de que o talento vem de berço. A veia artística do ator apareceu logo aos seis anos de idade, quando começou a fazer radionovela em São Paulo. “Ninguém consegue tornar-se ator, mesmo estudando. A veia artística nasce e morre com a pessoa”, acredita.

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