Dani Black se considera um cara romântico. Em seu primeiro disco, Dani Black, de 2011, na fase pós banda 5 a Seco, da qual fez parte, o cantor e compositor paulistano já se enveredava por esse universo de forma lírica. Agora, quatro anos depois, ele retoma o amor em suas letras no novo disco, Dilúvio, mas avança também para outros caminhos, por vezes, mais existenciais, mais filosóficos, o que não é de se estranhar em sua obra – vide canções como Oração (gravada por Ney Matogrosso em seu disco Atento aos Sinais) e Dez Dias (que Duda Brack traz em seu álbum É).

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“É uma outra abordagem do romântico, um pouco menos ingênua que no primeiro disco. Antes, era um outro olhar sobre a vida, sobre o amor”, diz Dani Black. “E nem sempre toda música de amor fala principalmente de amor. Por exemplo, Não Não Não (do novo álbum) é uma canção que tem uma certa melancolia, está falando muito mais sobre a vida do que propriamente sobre uma relação amorosa.” Em um trecho dela, Dani canta: “Não vai não vai mudar não. As pessoas melhoram as pessoas pioram as pessoas não mudam”.

Dentro dessa atmosfera múltipla, Ganhar Dinheiro soa como uma oposição à Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar), sucesso de Tim Maia. Enquanto o Síndico não quer dinheiro, quer amor sincero, Dani escreve, com pitadas irônicas, que “Viver de amor é romântico/Viver de ar é tão quântico/Viver da energia da luz do sol do dia/Não banca a correria haja jejum pra pagar”. Teria sido isso mesmo? Ele garante que a composição não foi feita como resposta ao hit de Tim. “(Ganhar Dinheiro) está falando o contrário do que Tim está, mas pregando a mesma coisa: o lance de que o dinheiro não é o mais importante. Ele diz que não quer dinheiro porque não é o que vai lhe trazer felicidade, e eu estou falando: preciso ganhar dinheiro para não precisar pensar em ganhar dinheiro. É uma música realista: fica aí amando e não rala para ver o que ocorre”, compara.

Cunhado com a fúria do som – do pop, do rock, do dançante, do reggae – e com a delicadeza poética das letras -, Dilúvio mostra-se um álbum 100% autoral, com produção e arranjos vigorosos de Conrado Goys. Dani Black, que tem parcerias com Zélia Duncan, Chico César, entre outros, assina todas as faixas do novo trabalho.

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Mas essa onipresença de suas composições não foi intencional, ele diz. “Foi uma coisa que ocorreu. Há parcerias, mas elas são minoria (em sua obra). Vou fazendo junto a melodia e a letra, o que acaba sendo uma coisa mais solitária. É o lado bom da solidão, como costuma dizer Zélia Duncan. Gosto disso. A composição, para mim, é um jeito de me descobrir por dentro. Então, vou procurando as coisas que quero falar.”

Filho da cantora e compositora Tetê Espíndola e do compositor Arnaldo Black – e, por causa disso, cresceu vendo músicos entrando e saindo de casa o tempo todo, ouvia bons vinis e brincava de compor quando acabava a luz -, Dani convidou o amigo Milton Nascimento para um dueto na última faixa do disco, Maior. Mas Milton precisava se aproximar dela, emocionar-se com ela. “Acabei ficando uma semana morando na casa dele. Todo o dia, eu acordava, a gente tocava um pouco da música, conversava e, depois de sete dias, ele disse: ‘Estamos prontos, vamos para o estúdio’. A gente foi e gravou em 20 minutos a faixa.”

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Sem Milton, mas com as participações de Maria Gadú, Chico César e 5 a Seco, Dani faz show de lançamento nesta sexta, 11, às 21h, no Auditório Ibirapuera, com ingressos já esgotados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.