Dalton Trevisan recebe meio prêmio

São Paulo – Não se sabe o motivo preciso, mas o fato é que até Rubens de Falco estava lá. A Sala São Paulo lotou terça-feira à noite para a apuração e entrega da primeira edição do prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira.

Depois de uma reinterpretação do regulamento do concurso, o presidente da empresa no Brasil e idealizador do prêmio, Eduardo Correia de Matos, corrigiu a auditora que cuidava dos envelopes lacrados com os votos dos sete jurados (Flávio Loureiro Chaves, Lucila Nogueira, Deonísio da Silva, Luiz Costa Lima, Beatriz Resende, Fábio Lucas e Ítalo Moriconi) e anunciou que os dois líderes na apuração, Bernardo Carvalho, autor de Nove Noites (Companhia das Letras), e Dalton Trevisan, de Pico na Veia (Record), dividiriam apenas o valor do primeiro prêmio (R$ 50 mil para cada um deles), e não a soma do primeiro e do segundo.

Individualmente, foram, digamos, R$ 15 mil brutos a menos para os escritores (mas R$ 20 mil a mais para o poeta Mário Chamie, autor de Horizonte de Esgrimas e terceiro colocado, que não receberia nada, e R$ 10 mil a mais para o também autor de poemas Sebastião Uchôa Leite, que desceria uma posição – acabou com os R$ 30 mil destinados ao segundo colocado).

Christiane Torloni e Raul Cortez apresentaram a entrega, a que compareceram a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), seu marido Luis Favre e o vice-governador Cláudio Lembo – mas que, devido a um atraso “providencial”, não tiveram tempo de discursar. Dalton Trevisan, evidentemente, não estava lá. Bernardo até deu uma entrevista bem-humorada depois de tudo, mas no palco ficou um pouco constrangido (foi o primeiro prêmio de sua carreira).

Músicos

O destaque, portanto, ficou com os músicos, que fizeram uma homenagem a Noel Rosa. Cauby Peixoto, aos 72 anos, foi o último e o que mais impressionou os jornalistas portugueses convidados, cantando Último Desejo, mas nem de longe o mais cômico. Wanderléa subiu ao palco pensando que era Elba Ramalho e tentou animar a platéia (o microfone estava baixo) cantando “A Juju já sabe ler/ a Juju sabe escrever/ há dez anos na cartilha”. O efeito kitsch, contudo, tinha contagiado o ambiente muito antes, quando, vestido de garçom (sério, calça preta, paletó branco e gravata borboleta) Eduardo Dusek cantou Com que Roupa. Virginia Rosa (Conversa de Botequim) foi profissionalíssima e Luiz Melodia improvisou um pouco, uma vez que não conseguiu decorar (nem ler) a letra de O X do Problema.

Quanto ao resultado do prêmio, pode-se dizer que houve certa justiça. Nove Noites foi, sem dúvida, um dos dez finalistas mais bem recebidos em 2002. Poderia ter ganhado sozinho, porque há uma certa incoerência em premiar um livro de Dalton Trevisan que é, para boa parte dos que acompanham literatura, muito inferior ao que ele já produziu, ao que vinha produzindo e mesmo ao que fez depois (seu livro Capitu Sou Eu, lançado este ano). Mas júri de literatura tem mesmo esse padrão, o de ser incontrolável. E as festas de entrega são como todas as premiações: engraçadas.

Voltar ao topo