Curitibano lança obra sobre Leonardo Pareja

Se o nome Leonardo Pareja lhe soa familiar, o lançamento Ensaio de uma vida bandida, do autor curitibano Leandro França, certamente lhe fará pensar novamente sobre o papel do bandido social no cenário político e econômico brasileiro. A figura de Pareja, ladrão e seqüestrador classe média, branco e nada adequado ao estereótipo do bandido nacional, marcou o País estampando capas de revistas e desafiando autoridades nos anos 90s. Mais de uma década depois, a obra que retrata sua vida, misturando arte, ficção e realidade, foi premiada com o terceiro lugar do Concurso de Novelas Literárias da Fundação Cultural de Curitiba, ano passado, e é lançada oficialmente hoje, na capital.

A figura que deu origem à inspiração do autor, que publica seu segundo livro, não é típica, tampouco ?aceitável?. Talvez por isso Leandro França enfatize quão cedo Pareja foi esquecido. ?O criminoso sempre é eleito de uma parte da população e segue o mesmo perfil. Ele era diferente, um bandido da classe média, que ofendia instituições e servia como canal para os desejos do povo. Daí o meu objetivo: resgatar algo que aconteceu há pouco tempo, mas que quase ninguém se lembra mais, embora o rosto de Pareja tenha saído em revistas e jornais por mais de um ano?, explica o autor, fazendo analogia ao lançamento nos cinemas Meu nome não é Johnny, que trouxe à tona novamente a imagem do bandido ?fora do comum?.

Em Ensaio de uma vida bandida, a história de Leonardo Pareja se transforma na imaginação de um roteirista de teatro que, em busca de um enredo interessante, se inspira nos feitos do bandido – e imagina suas ações como já encenadas em um palco. A narrativa dá conta de lembrar as ousadias do jovem que optou pelo crime por uma vida fácil, permeada de dinheiro, fama, mulheres e protesto, mas terminou morto, vítima da própria fama. Para quem não se lembra, Pareja era uma ?celebridade? dos roubos, seqüestros e rebeliões que comandou, criticando a polícia, desbancando autoridades e, mesmo assim, sem levar consigo uma morte sequer nas costas.

Daí a inclusão na obra de temas como a síndrome de Estocolmo (a paixão pelo seqüestrador/protetor pós-libertação em um seqüestro). ?Arrisco dizer que, com ele, ocorreu uma síndrome de Estocolmo nacional. Ele tirava sarro dos poderosos, trazia à tona as condições carcerárias e mais: era carismático, o que é um dom?, afirma França. A delicada relação com a imprensa, neste contexto, não poderia ficar de fora. ?O livro inclui um personagem fictício, um jornalista, que o acompanha. Havia um pacto entre eles: Pareja lhe antecipava as histórias e ele lhe dava as melhores coberturas. Uma relação imoral que o torna o herói do repórter?, cita.

Serviço:

O lançamento de Ensaio de uma vida bandida, publicado pela editora Juruá, acontece hoje, a partir das 19h no bar Soviet (Av. Bispo Dom José, 2277). 

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