Curitibano Carlos Machado lança CD e se apresenta no Guairinha

Pensar a mpb atual é um gesto complexo, para não dizer, repleto de ousadia, afinal, pensar e definir são alternativas para estabelecer rótulos e padrões. O novo álbum do compositor curitibano Carlos Machado é a prova cabal disso. “Longe”, como o próprio nome do CD já dá a dica, se coloca distante do que há “de novo” e busca, por meio de canções próprias ou da verve do poeta Fernando Koproski, parceria de longa data e trabalhos anteriores como o disco “Samba portátil”, mostrar que seu violão de dedilhado preciso “não é rock, não é mpb/não é pop, nem é iêiêiê”, como a diz a letra de “Canção pequena”.

A parceria madura com Koproski rendeu um verdadeiro ode à chegada da idade da razão: “Amor pra mim”. “Pode ser o fim do mundo/pode ser o fim que for enfim/só quero aprender com você/que o amor é pra mim”, dizem os versos, que parecem aceitar o amor desesperado da canção “Samba portátil”, do disco anterior e homônimo: “Meu coração/já sei por quê/tem essa mania/de bater por você”, que também são de Koproski.

Mais que uma fase

Com a participação encorpada de Carlos Careca em “De salto agulha no olho da lua”, Machado e Murilo de Rós, que também assina a produção do álbum, comandam os violões, enquanto Careca coloca sua voz poderosa em versos de igual poder e que termina com “Um brinde então à minha ruína”, o que se liga facilmente com o “It’s my life to ruin my own way” do Morrissey e que, na verdade, foi surrupiado de “A Taste of honey” de Shelagh Delaney.

Para quem já abusou do peso das guitarras e das distorções com a banda de heavy metal Sad Theory, Machado mostra desde seu primeiro trabalho solo “Tendéu”, de 2009, um faceta suave, porém, nem por isso, menos intimista, ao contrário, “Colocar o paletó, o chapéu e sair de cena/pois a sessão acabou, as cortinas se fecharam//adeus” de “Sem mais”, que encerra “Longe”, não é só uma metáfora para o fim inevitável de todos nós, mas marca o encerramento de cada ciclo de nossas vidas e apresenta, com maturidade, a aceitação de quem somos.

Retrato

Então, seria o consentimento da morte o fio que marca a idade madura de homem¿ “Terremoto em mim não tem mais jeito/o estrado já foi feito/aqui, aqui, aqui”, de “Terremoto em mim”, diz que não e deixa claro que amadurecer é um processo de aprendizagem.

Portanto, chamar “Longe” de álbum não é pedante, afinal, cada faixa compõe um retrato e deixa que o ouvinte perceba a si mesmo dentro de um meio e se coloque no chão a pensar e cantarolar, ora, a alegria de um amor, ora, o amor de uma dor.

Para celebrar o novo trabalho, Carlos Machado se apresenta no Guairinha nesta quarta-feira (08) às 20h e faz um retrospecto dos “anos solo”, nos quais teve e ainda tem a companhia de Fernando Koproski e Alexandre França.