Cuoco, um eterno camaleão

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O ator tem um currículo invejável e personagens idem.

A estréia de Francisco Cuoco no teatro não foi das mais promissoras. Ele tinha 22 anos quando fez o espetáculo "A Matrona de Éfeso", de Guilherme Figueiredo. Embora dividisse o palco com grandes figuras do Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC, como Fernanda Montenegro e Sérgio Britto, o ator não guarda boas recordações do seu personagem. "Eu fazia um gladiador que entrava mudo e saía morto", explica, brincalhão. Hoje, aos 72 anos de idade e 50 de carreira, Cuoco volta aos palcos num papel que o público não está habituado a vê-lo. Em "Três Homens Baixos", ele dá vida a Titi, um advogado que, num encontro com dois amigos de infância, resolve assumir que é… gay. "É possível que algumas pessoas fiquem decepcionadas comigo, mas estou numa nova fase da carreira. Mesmo quando só fazia galãs, tentava fugir do lugar-comum", recorda.

O espetáculo marca a volta de Cuoco aos palcos depois de 20 anos. O último trabalho do ator foi em 1985, quando estrelou "Hedda Gabler", de Henrik Ibsen, ao lado de Dina Sfat. "Hoje em dia, posso me dedicar mais ao teatro, mas, quando comecei, era praticamente impossível. As novelas tinham pouquíssimos atores e os papéis eram mais densos, pesados", compara ele. A estréia na tevê aconteceu em 1963, na novela "Pouco Amor Não É Amor", da TV Rio. Três anos depois, já na Excelsior, ele viria a protagonizar a mais longa de todas as novelas, "Redenção", com inacreditáveis 596 capítulos. "Só não foi mais cansativo porque a novela foi dando certo. Mas, desde então, fiquei com a imagem muito associada à tevê", observa.

Na Globo, Francisco Cuoco estreou em 1970, quando fez "Assim na Terra como no Céu", de Dias Gomes. Mas foi mesmo em "O Cafona", de Bráulio Pedroso, um ano depois, que ele chamou a atenção. Pela primeira vez num papel cômico, o ator dava vida a Gilberto Athayde, um empresário rico que queria virar grã-fino, mas cometia todos os tipos de gafe, até beber lavanda num jantar de socialites. "Os verdadeiros atores têm de ser camaleônicos. Mas nem sempre a gente consegue, né?", brinca ele. Entre os seus personagens favoritos, ele destaca três de Janete Clair: o Cristiano Vilhena de "Selva de Pedra", o Carlão Batista de "Pecado Capital" e o Herculano Quintanilha de "O Astro". "É impressionante como as pessoas lembram deles. Não há taxista que não fale do Carlão comigo até hoje", espanta-se. Mas o currículo do ator não é composto apenas de sucessos de audiência. Há também alguns "insucessos", como "Eu Prometo", a última de Janete, e "Quem é Você?", de Solange Castro Neves. "Às vezes, vejo coisas na tevê que nem lembrava mais de ter feito. Se esqueço coisas boas, imagine, então, as ruins…", desconversa, polidamente.

Apesar do currículo invejável, Cuoco não faz o tipo saudosista. "Gosto de olhar meu passado como uma referência da qual eu me orgulho. Mas também gosto de olhar para a frente. Acredito que, se eu tiver um presente bonito e atuante, estarei preparando bem o meu futuro", filosofa. Atualmente, o ator encena o espetáculo "Três Homens Baixos" e grava as primeiras cenas de "América", a próxima novela das oito. Na trama de Glória Perez, ele interpreta o fazendeiro José Higino, pai do peão Carreirinha, vivido por Matheus Nachtergaele. Por coincidência, os dois contracenaram recentemente em "Da Cor do Pecado", de João Emanuel Carneiro. "A princípio, eu faria uma participação de apenas três capítulos e fiquei na novela por seis meses", orgulha-se.

Em "América", Cuoco volta a trabalhar também com Glória Perez. Foi ela que assumiu o comando de "Eu Prometo", sob a supervisão de Dias Gomes, quando Janete Clair, vítima de câncer, teve de se afastar da novela. "Glória é reconhecidamente uma discípula da Janete. Mas, hoje, ela já conquistou uma identidade própria. Cada uma a seu tempo, as duas tiveram a sua importância na teledramaturgia brasileira", destaca o ator, emocionado com a lembrança de Janete.

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