Crise financeira afeta as Organizações Globo

Nem tudo na Globo segue o chamado “padrão global”. A maior empresa de comunicação do Brasil começa a sentir como é difícil controlar a expansão que promoveu nos últimos anos. A Net, emissora por assinatura controlada pelas Organizações Globo, deixou de ser um grande investimento para se tornar um enorme prejuízo.

Nos últimos tempos, sobrevive com a injeção periódica dos lucros obtidos pela emissora aberta Globo. Só que, com a queda da receita publicitária e a explosão do dólar, ficou difícil continuar tal “ajuda”. Com isso, a Net acumula uma dívida de cerca de R$ 2,4 bilhões.

Para amenizar a situação, as Organizações Globo resolveram entrar em acordo com seus credores e ofereceram a penhora da rede de 32 operadores da Net e de todo o faturamento da empresa de tevê por assinatura no Rio de Janeiro e São Paulo nos próximos quatro anos. Se o acordo for realmente selado, passa a ser dos credores – como o Banco do Brasil, que vai ser a instituição centralizadora da negociação – o direito de decidir os investimentos e gastos da Net.

A família Marinho anunciou, em maio deste ano, que iria fazer um aporte de capital na Globopar – responsável pelas finanças dos negócios das Organizações Globo – de US$ 135 milhões. “Nos comprometemos a vender ativos de nossa propriedade para viabilizar o aporte”, afirmaram em comunicado oficial os empresários Roberto Irineu Marinho, João Roberto Marinho e José Roberto Marinho. A partir daí, os Marinho começaram a se desfazer de parte de seu patrimônio. Das 113 afiliadas distribuídas em todo o Brasil, a família colocou à venda seus percentuais em 31. Três emissoras paulistas já foram vendidas para o jornalista José Hawilla, dono da agência de marketing esportivo Traffic. E oito afiliadas do Paraná estão praticamente vendidas para a Rede Paranaense de Comunicação, que já detinha 50% delas.

Hawilla passa a ser proprietário de 90% das TV Aliança, de Sorocaba, TV Modelo, de Bauru, e TV Progresso, de São José do Rio Preto. Os outros 10% de cada uma continuam em poder da família Marinho, como garantia de que elas permanecerão afiliadas da Globo. “A Globo está precisando capitalizar. Por isso colocou as afiliadas à venda”, analisa Hawilla, que ainda não tem muitos planos para as emissoras. “Vamos seguir as regras da Globo, como qualquer afiliada. Continuaremos com a programação atual e acrescentaremos programas com ênfase na comunidade”, conclui.

BNDES

Antes de decidir se desfazer do patrimônio, a família Marinho tentou outras soluções. Recorreu ao BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que possui 4,8% das ações da Globo Cabo. O Banco injetou na empresa R$ 284 milhões, dos R$ 1 bilhão necessários, no início deste ano, o que deixou a Band e a Record revoltadas com a iniciativa. Até porque, a própria Band e o SBT já tinham tentado empréstimo no banco sem obter sucesso. O BNDES chegou a explicar que não possuía linha de crédito nem política de financiamento específica para empresas de comunicação.

Mas a dívida que assombra as Organizações Globo não é culpa exclusiva da Net. O alto custo de produção das novelas, carro-chefe da emissora aberta, também causa dores-de-cabeça. Cada nova trama da Globo vira uma megaprodução, com direito até a viagens para o exterior onde são gravadas partes das novelas, e cada capítulo chega a consumir cerca de R$ 100 mil. E nem todas caem facilmente no gosto do público. Os autores de “Esperança”, “O Beijo do Vampiro” e “Sabor da Paixão”, exibidas atualmente, estão penando para atingir a audiência prevista para os horários.

Coincidência ou não, junto com a crise começou uma “dança das cadeiras” entre os funcionários do grupo. A diretora geral da Globo, Marluce Dias da Silva, se afastou do comando da Rede Globo alegando problemas de saúde e Henri Philippe Reichstul passou de presidente da Globopar para membro do conselho de administração das Organizações Globo. Ronnie Vaz Moreira, ex-braço direito de Reichstul na Globopar, subiu alguns degraus e assumiu o lugar vago do patrão. De olho no que ocorre na maior empresa de comunicação brasileira, as concorrentes redefinem suas estratégias.

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