Criador da série Songbook é assassinado no Rio

O produtor estava em sua casa, em Araras, distrito de Petrópolis, com a namorada Sami da Costa Alves, quando dois homens armados os renderam. Os bandidos amarraram as mãos do casal e os levaram no carro de Chediak para a Estrada do Roccio. Um dos ladrões estava numa moto. Na estrada, ele foi obrigado a descer do veículo, e acabou executado com vários tiros. Os bandidos libertaram a namorada na altura de Belvedere, e em seguida fugiram.

Sami contou os detalhes do crime na delegacia de Petrópolis. Na manhã de ontem, a polícia encontrou o carro incendiado no bairro Alto Independência, uma das regiões mais violentas do município, conhecida como refúgio de assaltantes e traficantes de drogas. A polícia não descarta a possibilidade de vingança.

A morte prematura do produtor acende um sinal vermelho na história dos registros musicais brasileiros. Chediak era um dos poucos músicos que sabia respeitar, como ninguém, a memória musical e cultural de seu País. Em 1986 fundou uma pequena editora, Lumiar, para publicar suas obras e de outros artistas na área da música popular.

Aulas

O mais curioso é que a idéia surgiu quando estava dando aulas de violão para Moreno Veloso (filho de Caetano) e, naquela ocasião, percebeu que faltavam partituras originais de vários compositores brasileiros. Sem querer descobriu um filão que até hoje rende lucros e dividendos para a cultura brasileira.

O songbook de Caetano foi sua primeira publicação, em 1988. Depois vieram os títulos Bossa Nova, Tom Jobim, Cazuza e Rita Lee. Em 1991, quando estava preparando o songbook de Noel Rosa, a idéia amadureceu ainda mais: ali, pela primeira vez, além do livro de partituras, Chediak gravou um disco com a participação de grandes nomes da MPB interpretando os clássicos do Poeta da Vila. Desde então, todo lançamento de um songbook vinha, necessariamente, acompanhado por gravações do compositor enfocado na voz de artistas de peso da música brasileira. A lista é extensa, o legado precioso, como você pode ver abaixo.

Lumiar contemplou panteão da música

Até hoje a Lumiar lançou no mercado alguns dos registros fundamentais da história da MPB. Estão lá partituras e canções de medalhões como Chico Buarque, Ari Barroso, Braguinha, Djavan, Carlos Lyra, Dorival Caymmi, João Donato, Gilberto Gil, Vinícius de Moraes, Marcos Valle e Edu Lobo.

Para se ter uma idéia da dimensão deste projeto, Chediak foi o produtor musical que mais gravou as obras de Tom Jobim. Só no projeto songbook foram sete CDs, dois instrumentais e cinco com todas as canções do maestro, num total de 109 faixas. Isso sem contabilizar outros projetos, como os discos de Rosa Passos e João Donato, também dedicados às composições de Tom Jobim.

Engana-se, porém, quem acha que os songbooks eram voltados apenas para músicos. Chediak sempre fez questão de esclarecer que o projeto maior da sua editora/gravadora era voltado também para os apreciadores da música brasileira. Assim, em cada um de seus livros ele incluía textos que comentavam sobre a vida e obra do compositor focalizado.

Além disso, como bom produtor estendeu a proposta de seu selo para gravar artistas fundamentais, que por circunstâncias ingratas (e já conhecidas), estavam fora do mercado. Os já citados João Donato e Rosa Passos, por exemplo, fizeram projetos pessoais numa relação que inclui nomes como João Nogueira, Johnny Alf, Cristovão Bastos, Nelson faria, Leny Andrade, entre outros.

Respeitado como professor (deu aula para artistas como Carlos Lyra, Tim Maia, Gal Costa, Nara Leão, Moraes Moreira, Ed Motta e Cazuza), músico (no songbook de Tom Jobim escrevia as partituras lado a lado com o maestro) e produtor (nunca teve problemas com outras gravadoras para a participação de grandes artistas nos seus songbooks), Chediak ainda tinha como trunfo um lado conciliador, sempre com o objetivo de enriquecer ainda mais os registros históricos da música brasileira. O último e mais significativo exemplo disso foi no ainda inédito songbook de João Bosco, quando o produtor conseguiu que Aldir Blanc, depois de anos de brigas, fosse ao estúdio gravar uma música de seu ex-amigo e parceiro.

Finalmente é bom lembrar que, ao contrário das grandes gravadoras do mercado, a Lumiar mantém todo o seu catálogo à disposição do público. Nada foi para “arquivo”. E só consular o site da gravadora (www.lumiar.com.br). Ali estão algumas jóias da nossa música. Uma herança que Chediak deixou para todos. É preciso manter acesa essa chama.

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