Corrupção, doença contagiosa

A corrupção é um mal cosmopolita. Mais freqüente e mais acintosa entre alguns povos. Em nosso País tem se manifestado com tão grande freqüência, que ouso considerá-la grave doença. Doença moral que, sob diversos aspectos, é mais grave que a doença orgânica. Mesmo por que freqüentemente, gera a doença física. A corrupção é uma forma de vício, tendência habitual para o mal. O inverso da virtude que é a tendência habitual do indivíduo para o bem.

A falsidade e a hipocrisia são inerentes ao corrupto. Simula bem-estar, alegria, satisfação, transmitindo a impressão de gozo pessoal e o desejo de que os circunstantes também o experimentem. Contudo, o vicioso habitual é extremamente egoísta, chegando a ser indiferente, desdenhoso e até cruel.

A corrupção é um mal social, em muito semelhante a uma doença contagiosa, com tendência a alastrar-se. Tem caráter endêmico e é capaz de contaminar diversas comunidades, pelo mau exemplo e a impunidade. Eis a grande interrogação: pode haver maior e mais nociva doença do que a corrupção?

A corrupção tem características de deformação moral e de princípios. O corrupto é, antes de tudo, inescrupuloso, egoísta. Absolutamente insensível ante os desníveis que a sua ambição possa acarretar aos semelhantes.

A corrupção significa transação ou troca entre quem corrompe e quem se deixa corromper. Quando a corrupção envolve o patrimônio público, sistematicamente ocorre a ação nefasta de grupos de pressão sobre membros dos Poderes, visando a usufruir privilégios.

Já foi referido que a corrupção é cosmopolita. A propósito, vale a pena realçar alguns conceitos emitidos pelo arcebispo de Buenos Aires, o jesuíta, cardeal Jorge Mário Bergoglio, contidos na publicação denominada Corrupcióm y pecado. Algumas reflexões em torno do tema da corrupção.

?É bom refletir, com a força profética do Evangelho, que nos situa na verdade das coisas, sobre a debilidade humana que, unida à cumplicidade, cria o húmus apto para a corrupção. À luz da Palavra de Deus, aprender a discernir os diversos estados de corrupção. Eis por que nos fará bem dizer-nos uns aos outros: ?pecado, sim, corrupção não! Pecador, sim, como disse o publicano no templo: Deus meu, tem piedade de mim, que sou um pecador?. Como é difícil o vigor profético mover um coração corrupto! O Corrupto não admite nenhum questionamento. Acumula riquezas para si, mas não é rico aos olhos de Deus (Lucas 12,21). O corrupto tem a cara de ?eu não sei?. Cara de doutorado honoris causa em cosmetologia (máscara de cosméticos). É o que em nossa linguagem popular denominamos ?cara de pau?. Diz mais o cardeal Bergoglio: ?Características do corrupto: complexo de inquestionabilidade, fica irritado, desqualifica quem o critica (pessoa ou instituição?.

O corrupto fica enfurecido com os que pensam diversamente. Projeta sobre os outros os seus defeitos. Faz do ataque a melhor defesa. Confia no corporativismo, que conivente bloqueia e impede o saneamento moral e social, apesar de a Constituição Federal de 1988 assegurar, em seu Art. 5.º: ?Todos são iguais perante a lei?.

Ary de Christan é médico.

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