Contar histórias e falar em público

Contar histórias é uma tradição milenar. No momento em que a sociedade contemporânea entrou na era do consumo desenfreado, esta tradição foi diluída e, em muitos casos, extinta do cotidiano de muitas gerações. Esta arte está ligada às memórias afetiva, familiar e coletiva dos indivíduos de uma determinada cultura. No instante em que uma pessoa narra o seu relato ou o relato de outro (outras histórias de ficção ou não-ficção), este relato passa a ser daquele que ouve somente se aquele que conta está dentro daquilo que narra.

O que é estar ?dentro?? É estar física e emocionalmente integrado ao relato; é deixar a voz e o corpo disponíveis para assumirem as formas imaginárias que o relato descreve.

Para isto é preciso técnica, é preciso uma linguagem específica, já que numa sociedade de consumo os indivíduos priorizam a racionalidade e o utilitarismo das coisas em detrimento da intuição. Nesta direção, é possível afirmar que, numa sociedade cuja prática da narrativa é quase inexistente ou nula, faz-se necessária a composição de cursos que formulem um caminho para esta prática a partir de vivências e reflexão.

É experiência notória que um indivíduo que participa de um relato de maneira integral ?ganha? uma espécie de qualificação para falar em público de maneira orgânica e significativa.

Quando o sujeito está inserido num relato – seja este uma palestra, uma conferência, uma aula ou a exposição de um projeto a um grupo de pessoas – os ouvintes participam ativamente da escuta física e sensorial da mensagem emitida.

Daí a afirmativa de que a arte de contar histórias amplia a capacidade de falar em público, pois a pessoa vai colocar-se no espaço com o seu corpo, articular o seu discurso de maneira encadeada e estará sentindo aquilo que narra, ou seja, para o ouvinte será um instante especial de troca de saberes atrelado a um prazer em ouvir um relato.

Giuliano Tierno é teatro-educador e pesquisador da cultura infantil.

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