Conniff sai do palco e entra para eternidade

São Paulo

– As críticas negativas já não o incomodavam fazia anos, pois o que realmente interessava ao maestro e trombonista norte-americano Ray Conniff era ver um salão lotado dançando ao som de sua orquestra, que transformava em sons adocicados clássicos como “Besame Mucho” e “New York, New York”. Ele morreu sábado, em conseqüência de um derrame, depois de sentir-se mal em seu pequeno chalé em San Diego (EUA). Conniff completaria 86 anos no dia 16 de novembro.

A notícia de sua morte foi ignorada pelas principais agências de notícias do mundo. A confirmação, aliás, veio com o presidente do fã-clube internacional de Conniff, o alemão Manfred Thoenicke, que recebeu a informação da mulher do maestro, Vera. Segundo afirmou Thoenicke, Vera estava viajando aos Alpes suíços no momento do ocorrido. Conniff sofreu um derrame há seis meses e estava com o lado esquerdo do corpo paralisado.

Thoenicke afirmou ainda que receberá durante esta semana da própria Vera, informações sobre data e local de enterro. Segundo ele, o funeral deverá acontecer em Los Angeles.

Trato difícil

Elias Ramos Gaia, responsável pelo fã-clube do maestro no Brasil, não considera estranho o silêncio das agências internacionais, mesmo as dos Estados Unidos. Conniff, segundo Gaia, era ignorado pelo público norte-americano, embora seus primeiros discos, nos anos 60, tenham feito muito sucesso. “O maestro era uma pessoa de trato difícil e tinha rompido com a imprensa.”

Seu prazer era compartilhado mesmo com os fãs, responsáveis pela venda de 85 milhões de cópias de uma longa carreira, com 102 discos. Fãs que se concentravam quase que exclusivamente no Brasil, onde suas apresentações eram aguardadas por um público cativo. Seus shows – os últimos dois em São Paulo aconteceram em setembro do ano passado, no Credicard Hall – seguiam rigorosamente a mesma pauta, com o maestro gesticulando como um garoto ao reger a orquestra, incentivando o público a acompanhá-lo na dança, nas palmas e na batida dos pés. Se para alguns soava como algo cafona – o excesso de metais da banda pasteurizava os mais diversos gêneros musicais -, para outros era o próprio ressurgimento das grandes bandas dos anos 40 e 50. Graças a seu espírito cativante, Conniff conseguia transformar um rígido esquema comercial em um animado baile.

Vida

Conniff nasceu em 1916, em Massachusetts, nos Estados Unidos, filho de um trombonista e uma pianista. Decidiu seguir o mesmo caminho do pai, tornando-se um instrumentista de relativo respeito. Tocou ao lado de alguns dos maiores nomes da música norte-americana, como Bunny Berigan, Bob Crosby, Art Hodes e Artie Shaw.

Depois de participar da 2.ª Guerra Mundial, Conniff abriu um novo caminho, tornando-se arranjador. Após uma rápida passagem pelo conjunto de Harry James, foi a Hollywood e começou a trabalhar para os grandes estúdios. Acabou contratado pela Columbia, em 1951, que decidiu bancar seu álbum de estréia em 56, “S?Wonderful”.

Sua primeira visita ao Brasil foi na década de 60, quando, ao lado de Henry Mancini, tocou “Aquarela do Brasil”, “Besame Mucho” e “Somewhere my Love”. Desde então, não ficaria mais que dois anos sem voltar ao País. “Não sei a razão, mas gosto muito de saber que no Brasil três gerações dançam com minhas músicas”, disse Conniff, em 1999.

Quando estimulado a pensar mais no assunto, abria um sorriso e, como fez à filha Tamara, autora de um artigo sobre o assunto, respondia com frases tão adocicadas como suas apresentações: “Se você ama o que faz e o faz porque realmente ama, simplesmente acontecerá”.

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