Confortável na pele do lobo

Oscar Magrini conta que sempre admirou os grandes vilões do cinema e da tevê – daqueles tipos clássicos, que esboçam um cínico sorriso enquanto cometem as maiores atrocidades. Não por acaso, o ator esbanja satisfação por encarnar o ambicioso Agenor, de Canavial de Paixões, um digno integrante da “turma do mal”. Na trama mexicana produzida pelo SBT, o capataz não tem o menor escrúpulo para subir na vida. Só vira cordeirinho diante da patroa, a também malvada Teresa interpretada por Débora Duarte.

“Este é meu primeiro personagem 100% vilão e estou curtindo demais. Na verdade, nunca gostei de ser o mocinho. Prefiro ser o desviado, o que promove a ação na trama”, confessa o ator, que até hoje é lembrado pelo cafetão Ralf, que viveu em 1996 na novela O Rei do Gado, de Benedito Ruy Barbosa.

Canavial de Paixões é a segunda novela de Oscar Magrini no SBT – a primeira foi o “remake” de As Pupilas do Senhor Reitor, em 1994. Para compor o vilão do folhetim, o ator deixou a barba grisalha crescer. “Sempre apareci de cara limpa na tevê e achei que estava na hora de mudar”, justifica Oscar – que tingiu a barba na primeira fase de Canavial, mas assumiu os fios brancos na segunda, quando houve uma passagem de 15 anos na trama. Quanto à estrutura do SBT, o ator garante que não tem do que reclamar. “É um clima bem familiar. Reencontrei velhos amigos, com quem já havia trabalhado fora da Globo. Acho que Canavial pode ajudar o SBT a recuperar o sucesso que fazia há dez anos, com novelas do porte de As Pupilas e Éramos Seis, imagina o simpático paulistano, que se divide entre a própria casa na capital de São Paulo e “um pouso” na cidade de Atibaiaa, a poucos quilômetros das locações da novela, em Jundiaí e Iracemápolis.

Telas e teatro

Com 42 anos de idade e 13 de carreira, Oscar gaba-se de se alternar entre teatro, cinema e televisão. Mas é realmente lembrado pelos papéis na tevê. Em 1992, estreou em novelas como um capanga em Deus Nos Acuda. No ano seguinte, viveu o ecologista Vítor, em Mulheres de Areia. Foi para o SBT interpretar o bonachão Augusto Varela em As Pupilas do Senhor Reitor, em 1994. De volta à Globo, passou por Malhação e emplacou como o Ralf, de O Rei do Gado, em 1996. Um ano depois, vivia o fazendeiro boa-praça Pedro Olímpio, de O Amor Está no Ar. Popularizou a gíria “percebe?” do truculento e inocente Jonny Percebe, em Torre de Babel, em 1998. E deixou Vila Madalena no meio – quando fazia o garçom Aricanduva -, após se desentender com a Globo em questões contratuais.

Portugal

Depois de viver um vilão em Marcas da Paixão, em 2000, Oscar dedicou-se ao teatro e fez duas novelas em Portugal. Na primeira, Ganância, exibida pela SIC, encarnou um brasileiro que tentava a sorte na terra de Camões. Nem bem a novela estreou, o personagem teve de morrer para que o ator protagonizasse Senhora das Águas, da RTP1. Encarnou um português que retorna à “terrinha”, após 25 anos no Brasil. “Difícil foi me adaptar ao ritmo de Portugal, com vários ensaios e várias gravações da mesma cena… O Brasil tem ?know-how? em teledramaturgia e ninguém faz novelas como a Globo”, enaltece o ator que, entretanto, rejeita o rótulo de “ex-global”.

Homossexual

Com o fim das gravações de Canavial, em dezembro, Oscar pretende viajar em temporada com a comédia Os Segredos do Pênis, dirigida por Evandro Mesquita. Acelerado por natureza, o ator não tem dificuldade em conciliar trabalhos. No ano passado, por exemplo, filmou Carandiru, de Hector Babenco, encarnou o mulherengo Humberto de Esperança, de Benedito Ruy Barbosa, e incorporou um homossexual na peça Socorro, Mamãe Foi Embora!, do mesmo autor. Na verdade, foi Marilene Barbosa, a esposa de Benedito, que convidou Oscar para o papel do mordomo gay, com a alcunha de Picasso. A princípio, Benedito não gostou. “Ele dizia: ?Não pode, Magrini! Você é homem!”?, diverte-se, acrescentando, porém, que o autor acabou surpreendido com sua “performance”.

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