Como os pais estão sendo retratados na teledramaturgia nacional

As mães sempre fizeram a alegria dos autores de teledramaturgia. Das sofridas e batalhadoras, como Maria do Carmo de Senhora do Destino, às absolutamente possessivas, como Edilásia, de Da Cor do Pecado. De uns tempos para cá, no entanto, estas “estrelas do lar” têm dividido o espaço familiar com pais que não ficam nada a dever a elas tanto na criação de conflitos dramatúrgicos quanto na conquista da simpatia do público. Que o diga o milionário Afonso Lambertini, vivido por Lima Duarte na atual novela das sete. O personagem começou a história rejeitado pelo filho e saiu de cena deixando, além das saudades da família da ficção, veementes protestos do público, contrário ao assassinato criado pelo autor João Emanuel Carneiro.

Melhor para Lima, que desde o início do trabalho não queria fazer um “pai vilão”. “É minha 55.ª novela e pelo menos o 10.º pai odiado pelo filho. Queria mesmo que ele demonstrasse a grandeza que tinha, principalmente para o Paco”, confessa o ator.

Para o bem ou para o mal, os papais da ficção têm marcado seu espaço junto ao dia-a-dia dos filhos, com “atuação” severa, generosa ou até “coruja”. Uma exceção é o aproveitador Josivaldo, de Senhora do Destino. O personagem de José de Abreu abandonou Maria do Carmo com os cinco filhos no Nordeste e partiu para São Paulo. De lá, nunca mais mandou ou quis saber notícias da família. Mas a situação mudou de figura quando soube que a “arretada” nordestina enricou. “Ele, definitivamente, não é um bom exemplo de pai”, resume o ator, que tem na ponta da língua os motivos da reaproximação do personagem com os filhos e até da “cumplicidade” com Reginaldo, vivido por Eduardo Moscovis. “Envolvimento ele não tem nenhum. Está atrás de dinheiro mesmo”, simplifica José de Abreu.

Absolutos ou nem tanto

Da mesma “estirpe” de Josivaldo é Vítor, de Seus Olhos, do SBT. Mas o ator Petrônio Gontijo tenta defender o vilão até no que diz respeito à “disputa” com o filho, vivido por Thierry Figueira, pelo coração de Renata, personagem de Carla Regina. “Não diria que o problema dele é como pai. O que ele tem é uma grande falha trágica: aquele amor pela Marina, que se transfere para a Renata”, opina Petrônio. Por muito menos que isso, o dedicado Joaquim, de Cabocla, passou por sérias crises de consciência. O personagem de Reginaldo Faria não conseguia aceitar a paixão por Pequetita, vivida por Mareliz Rodrigues, a “noiva” escolhida para o filho, Luís Jerônimo, de Daniel Oliveira. “Ele é um pai absoluto, inteiro. E só afrouxou porque viu que o filho tinha mesmo outras intenções”, avalia Reginaldo.

Pais “absolutos”, aliás, não faltam em Cabocla. O autor Benedito Ruy Barbosa destaca, além do próprio Joaquim, os coronéis Boanerges e Justino. “Eles defendem a família com unhas e dentes. Mas faço críticas a seu comportamento. Os dois não resistem a uma análise sob a ótica moderna”, argumenta o autor. O público, no entanto, parece não concordar. Tanto que Benedito ficou surpreso com a quantidade de pedidos que recebeu para poupar o filho de Boanerges, que nasceu morto na primeira versão e na atual ganhou o mesmo destino, apesar dos protestos. “As pessoas dizem que é maldade. Mas é uma lição. O cara vê os ‘anjinhos’ passando nos caixões e nem liga”, indigna-se Benedito.

Pai herói

Pelo menos um exemplar dos pais da teledramaturgia atual não deixa margem para divergências. O Kaíke, de Da Cor do Pecado, é o que se pode chamar de “pai herói”. Primeiro, teve de enfrentar a antipatia do próprio filho, Otávio, papel de Felipe Latgé. Depois de conquistar o garoto, passou por poucas e boas para livrá-lo das garras da mãe megera Bárbara, vivida por Giovanna Antonelli. Apesar de ainda enfrentarem a loucura da vilã, pai e filho têm seu final feliz assegurado na trama. Para Tuca Andrada, intérprete de Kaíke, a história já terminou bem. “O personagem ocupou espaço muito maior que o previsto por causa do relacionamento com o filho”, avalia Tuca.

Com bons e maus exemplos

# O pai mais marcante da carreira de Reginaldo Faria foi o Barão Sobral, de Força de um Desejo. “Era um personagem bem mais rígido que o Joaquim. Mas, pela educação que tive, acho mais fácil entender os dois que um pai mais modernoso”, pondera o ator.

# Eduardo Moscovis acha que a falta de caráter de Reginaldo, seu personagem em Senhora do Destino, não respinga na relação com os filhos. “Ele é um pai presente, adora os filhos, morre de ciúmes deles. Principalmente da Bianca, que é seu xodó”, defende.

# O caráter condenável de Vítor, de Seus Olhos, é um exemplo para seu filho Felipe, vivido por Raoni Carneiro. “Ele é um retrato muito claro do pai. Só quer saber de mulheres e dinheiro fácil”, define Raoni.

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