Para uma boa parcela dos atores, o famoso “laboratório” é fundamental para viver qualquer personagem. Já para outros, a preparação é algo mais voltada para uma busca interior. Mas, independentemente do método, o certo é que todos os atores acabam se inspirando em algo para dar vida a seus personagens em novelas e minisséries. Há os casos extremos, em que se precisa emagrecer ou engordar ou mesmo fazer mudanças visuais radicais, como pintar ou raspar completamente os cabelos. Até os mais sutis, como inventar um gesto ou uma maneira diferente de falar o texto. “Pensei na Lola como uma personagem de quadrinhos, com voz agudinha e jeito elétrico. Decidir parâmetros como estes para mim vale por mil laboratórios”, afirma Adriana Esteves.

Em Celebridade, por exemplo, Deborah Secco e Juliana Paes se prepararam de maneira diferente para viver personagens semelhantes: as manicures Darlene Sampaio e Jaqueline Joy da trama de Gilberto Braga. As duas querem ficar famosas e são moradoras do subúrbio. Enquanto Juliana questiona a importância de se fazer “laboratório”, Deborah fez questão de visitar algumas vezes o Andaraí, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, onde fica o salão de beleza e a casa de Darlene na história. A atriz foi em dois salões conversar com as manicures e ver como elas se vestiam e se portavam. Deborah aprendeu que lá não existe uniforme para as manicures. “Na preparação dos personagens, sempre procuro descobrir os ambientes em que eles transitam. Por isso, fiz questão de ir ao Andaraí”, explica a atriz. Já Juliana achou um jeito bem mais prático de se preparar para a personagem de Celebridade. “Eu me inspirei na minha manicure e, é claro, no texto do Gilberto. Este negócio de laboratório é muito mistificado”, acredita a intérprete de Jaqueline.

Excesso

Conhecido por ser um ator de composição, Murilo Benício vem tentando mudar nos últimos trabalhos. Isso porque, nos primeiros, ele foi radical. Em Irmãos Coragem, Murilo raspou parte da sobrancelha e serrou um pedaço do dente para viver o capanga Juca Cipó. Em Fera Ferida, surpreendeu até o autor Aguinaldo Silva adicionando uma gagueira ao gari Fabrício. O ator afirma que aprendeu que só vale a pena fazer composição quando é fundamental. Em O Clone, em que viveu três papéis, ele se apegou a detalhes. O gêmeo Lucas, por exemplo, não mostrava os dentes e o clone Léo tinha um tique no pescoço imitado de Jude Law em Inteligência Artificial. Em Chocolate com Pimenta, em que vive Danilo, um playboy dos anos 20, o ator se baseia no que aprendeu sobre os costumes da época da novela. “A minha preparação para Chocolate é estudar o texto, uma noite antes de gravar. Fico bolando como vou fazer as cenas”, entrega Murilo.

Como na vida real

Já Fábio Assunção tinha um plano em mente para se preparar para viver o inescrupuloso Renato Mendes de Celebridade. Como o personagem é um editor de revista, o ator pensou em passar um tempo em uma grande redação para ver como funcionava o dia-a-dia do jornalismo. Mas percebeu que seria complicado, pois de alguma maneira iria ligar o nome da empresa em que estaria fazendo o “laboratório” a um personagem de ética duvidosa. Por isso, decidiu remexer nas experiências, as piores que ele próprio teve com a imprensa, como quando um paparazzi registrou seu casamento e o ator processou a publicação que mostrou as fotos. “Acabei fazendo uma preparação subjetiva”, reconhece o ator.

Marco Ricca, que vive o galanteador Celso Camacho, de Kubanacan, nem sabia que estava fazendo um tremendo laboratório numa recente viagem a Cuba. Menos de um mês depois de voltar de Havana, onde participou de um congresso, o ator foi convidado para entrar às pressas na novela. Ao saber que a trama se passava em um “misterioso país tropical” e que seu personagem era um conquistador barato, no gênero dos latinos dos anos 50, ele lembrou na hora dos tipos com que conversou em Cuba. “Por isso, sempre penso que o ator é antes de tudo um observador e a vida é o melhor laboratório”, filosofa.

Colocando a mão na massa

José Mayer encarou o próprio medo para se preparar para Mulheres Apaixonadas e Patrícia Pillar caiu na estrada à procura de sua caminhoneira de Carga Pesada. O ator, que viveu o médico César na novela de Manoel Carlos, acompanhou uma operação inteira do cirurgião Paulo Niemeyer na Santa Casa do Rio de Janeiro. O objetivo era saber como estes profissionais mantêm o sangue-frio num ambiente de cirurgia. No entanto, José Mayer ressalta que este tipo de preparação é uma exceção em sua carreira. “O meu modo de preparar o personagem está mais para a simplicidade do Marcelo Mastroianni, que não fazia nenhuma preparação, do que para um Robert de Niro, que faz muita composição”, compara o ator.

Já Patrícia Pillar aprendeu a dirigir um caminhão na fábrica da Volkswagen no Rio de Janeiro para viver a Rosa de Carga Pesada. Ela parou em vários postos de gasolina de beira de estrada para tomar cafezinho e procurar por presenças femininas entre os caminhoneiros. Chegou a falar com duas carreteiras por telefone, conheceu esposas que acompanhavam os maridos na estrada e conversou com motoristas de táxi e ônibus. Patrícia lembra que existem dois tipos de preparação no seu caso: a teórica, que busca fundamentos para a personagem, e a prática, em que tem de ajustar a imagem para o papel. “Foi um martírio viver a Salomé, por exemplo, porque eu mesma sugeri pintar o cabelo de ?blondie? e o projeto pulou de dois para nove meses. Queria morrer!”, recorda.

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