Começa hoje o Festival de Teatro de Curitiba

Enquanto o mundo se volta ao “teatro de operações” de uma guerra insana, Curitiba abre suas cortinas para a pura arte dramática: começa hoje, às 21h30, na Ópera de Arame, o 12.º Festival de Teatro de Curitiba. Durante os próximos dez dias, a cidade vai abrigar o número recorde de 175 espetáculos – 18 na Mostra Contemporânea, dois na Mostra Infantil e 155 no Fringe -, ultrapassando as 740 apresentações, com mais de 3.700 pessoas envolvidas e expectativa de público de 100 mil pessoas.

E coube à Fraternal Cia. de Artes e Malas-Artes, de São Paulo, o desafio de encarar a Ópera de Arame e dar a largada à maratona cênica, com a comédia Auto da Paixão e da Alegria, texto de Luís Alberto de Abreu e direção de Ednaldo Freire. Aproveitando o filão da comédia popular brasileira, a peça conta a história de quatro saltimbancos que se dedicam a contar os acontecimentos bíblicos. Três deles descendentes de testemunhas oculares da passagem de Jesus Cristo na Terra, e o quarto um esperto paraibano que reproduz as versões desses acontecimentos segundo a tradição popular.

Embora a mostra paralela Fringe tenha crescido consideravelmente, com 22 montagens a mais do que na edição passada (veja matéria nesta página), o carro-chefe continua sendo a Mostra Contemporânea (ex-Oficial). A maioria dos 18 espetáculos reúne atores e diretores consagrados, com temporadas bem-sucedidas no Rio e em São Paulo. Dessa vez apenas seis encenações fazem sua estréia nacional em Curitiba: as paulistanas As Nuvens e/ou Um Deus Chamado Dinheiro, com os Parlapatões, e Mire Veja, com a Cia. do Feijão, Fausto, com a Péssima Cia. (RJ), A Força do Hábito, de Luciano Alabarse (RS) e João and Maria, com a Cia. Senhas de Teatro (PR).

Os dois blockbusters deste ano são Memorial do Convento, adaptação do dramaturgo espanhol José Sanchis Sinisterra para o romance homônimo de José Saramago, com direção de Christiane Jatahy, e Fausto, tradução de Geraldino Carneiro para o clássico de Goethe, dirigida por Moacir Chaves. Duas superproduções com elenco estelar – a primeira reunindo Letícia Sabatella e Caio Junqueira, e a segunda com Gabriel Braga Nunes e Fernando Eiras. Fausto pode até ter uma sessão extra, tamanha tem sido a procura.

“Medalhões”

Logo a seguir, entre “medalhões”, enfileiram-se A Ponte e a Água de Piscina, de Alcides Nogueira, com direção de Gabriel Villela e Walderez de Barros, Claudio Fontana e Vera Zimmermann no elenco; A Prova, adaptação de José Almino da obra de David Auburn, dirigida por Aderbal Freire Filho e estrelada por Andréa Beltrão e José de Abreu, e Os Sete Afluentes do Rio Ota, texto de Robert Lepage dirigido pela cineasta Monique Gardenberg, com Caco Ciocler, Giulia Gam e Beth Goulart.

Correndo por fora estão As Nuvens e/ou Um Deus Chamado Dinheiro, versão do parlapatão Hugo Possolo para a peça de Aristófanes, A Força do Hábito, adaptação do gaúcho Luciano Albarse para o texto de Thomas Bernhard, Mire Veja, adaptação de Pedro Pires e Zernesto Pessoa do livro Eles Não Eram Muito Cavalos, de Luiz Ruffato e Orgia, inspirada na obra de Pier Paolo Pasolini, com Cássio Scapin e Inês Aranha.

Também merece destaque a curiosa A Hora em que Não Sabíamos Nada Uns dos Outros, com a Cia. Elevador de Teatro Panorâmico, do paulistano Marcelo Lazzaratto, que utiliza mais de 600 peças de figurino, 300 pares de sapato e 60 perucas. São 15 atores interpretando mais de 350 personagens, transeuntes numa praça. Não há diálogos, apenas interjeições e trilha sonora.

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Na Mostra Contemporânea os ingressos custam 20 reais (10 para estudantes). Mais informações no site

www.festivaldeteatro.com.br.

Público deve “garimpar” no Fringe

Além das 18 peças da Mostra Contemporânea, o espectador do 12º Festival de Teatro de Curitiba é convidado ao desafio de garimpar jóias entre os 155 espetáculos do Fringe, que estarão em cartaz das 12h à 1h30, em 31 espaços alternativos de Curitiba – incluindo bosques, bares, parques e praças.

Com ingressos variando entre o gratuito e 10 reais, compensa vasculhar o programa e sair atrás de informações sobre as montagens. Pois é possível deparar com obras-primas, como Hysteria, que os paulistanos do Grupo XIX de Teatro (grande ausência desta edição) estrearam no Fringe do ano passado, e que acabou se tornando um sucesso estrondoso em todo o País.

A maior promessa deste ano também vem de São Paulo: Interior, musical encenado pelo grupo Teatro da USP, traz esquetes referentes aos anos 70, criadas a partir da vivência dos 13 atores – que reúnem desde vendedores de laranja a empacotadores de naftalina. A trilha sonora inclui sucessos do flower power brazuca, de Secos & Molhados a Rita Lee, executados ao vivo no palco. A peça estará em cartaz no Teatro José Maria Santos, de amanhã a segunda.

A griffe mineira Galpão brinda a Mostra Paralela com O Homem que Não Dava Seta, com direção de Chico Pelúcio e dramaturgia de Luiz Alberto de Abreu, sobre a decadência da sociedade contemporânea.

Outra montagem que está sendo bastante comentada é A Peça Didática de Baden Baden sobre o Acordo, um dos quatro espetáculos que a Cia. de Elevador Panorâmico traz a Curitiba, de amanhã ao dia 27, no Teatro Paulo Autran. “É a peça que as pessoas adoram ou odeiam. Tem bastante humor e, assim, o que é enfadonho fica interessante”, comenta o diretor Marcelo Lazzaratto, que dirige seus alunos da Unicamp na adaptação do texto de Bertold Brecht. Ele traz ainda A Hora em que Não Sabíamos Nada Uns dos Outros e Loucura, na Mostra Contemporânea, e o monólogo Deu Maromba na Marona no Fringe.

O teatro essencial de Denise Stoklos também está muito bem representado pela discípula paulistana Silvana Abreu em Micro-revolução de Um Ser Gritante, inspirada no livro A Paixão Segundo G.H., de Clarice Lispector. Silvana assina texto e direção e atua. Em cartaz de amanhã ao dia 30 na Sala Kazuo Ohno.

Os paulistanos mostram sua força ainda com Combustão Espontânea, de Vitória Verne com direção de Paula Coelho, ousado texto sobre jovens que realizam experiências radicais de purificação temperados a sexo, drogas e violência.

O Paraná surge em boas mãos: o maringaense Ranieri Gonzales, que interpretou o atormentado Maurício na novela Esperança, encarna Vincent Van Gogh em Vermelho Sangue Amarelo Surdo, na Sala Londrina do Memorial de Curitiba, de amanhã ao dia 27.

Os catarinenses da Persona Companhia de Teatro também comparecem com uma peça premiada – F., que recorre ao expressionismo para apresentar personagens inspirados no escritor tcheco Franz Kafka. No Mini-Guaíra de amanhã a domingo.

Entre as montagens que estréiam amanhã, também há um boca-a-boca em torno de Commedia Dell’Arte Ensina a Fazer Sopa de Pedra, no Largo da Ordem, Cartas de Desamor, no Teatro José Maria Santos (em que o ator Luiz Brambilla vai se tatuar em cada sessão), Arrastom, no Teatro Experimental da UFPR e Volta ao Dia…, no Cleon Jacques.

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