Começa hoje em Curitiba a “Imagética”

Não sem polêmica e queixas dos artistas que se sentiram preteridos, a Fundação Cultural de Curitiba abre hoje às 20h no Moinho Novo Rebouças a já famosa Imagética, megaevento das artes visuais definido como a “evolução” das Mostras de Gravura e Bienais Internacionais de Fotografia. Nos últimos dois anos, a Fundação reservou 1 milhão de reais para a mostra. “Mas devemos gastar menos”, adianta o presidente Cassio Chamecki.

Até o dia 18 de janeiro, 142 artistas de todo o Brasil vão ocupar seis espaços expositivos e outros pontos da cidade com mais de 400 obras, com visitação aberta ao público. A curadoria é dividida por Ricardo Oliveros, Ricardo Resende e Eduardo Brandão, com coordenação curatorial de Ricardo Ribemboim.

“Optamos por convidar artistas ?inconformados’ ou ?desconfortáveis’ com um único suporte, que venham manifestando um interesse pela investigação”, contou Ribemboim na entrevista coletiva de lançamento da mostra, no final da semana passada. “Durante seis meses, percorremos ateliês em diversas cidades brasileiras, e pedimos ao próprio artista que definisse a sua trajetória”, completou Oliveros. A partir daí, selecionamos os trabalhos que se alternassem em diversos suportes e dialogassem entre si e com o conceito da mostra.”

Diferencial

Este parece ser o grande diferencial da Imagética. No lugar de fixar um tema e “recortar” da produção dos artistas obras que se encaixem nesse tema, a curadoria preferiu selecionar os artistas por sua trajetória, e, só então, dividi-las nos espaços segundo afinidades temáticas. “Na maior parte das bienais, são o tema, a curadoria e determinadas obras que ficam em primeiro plano. Você chega, vasculha a produção do artista e seleciona o que lhe interessa -como se estivesse num supermercado. Na Imagética, é no próprio artista e na sua produção que está o foco”, compara o curador.

Aparentemente, os artistas – pelo menos os que participam do evento – aprovaram a idéia. A paulista Lenora de Barros, por exemplo, que espalhou pela cidade inteira uma variação do seu trabalho Procuro-me, exposto no ano passado em São Paulo, disse que a maneira inovadora como trabalhou a curadoria a ajudou a conceituar o seu próprio trabalho. “Foi a primeira vez que um curador pediu para eu definir o meu trabalho, chegou e ouviu muito mais do que falou. Um silêncio que até me incomodou”, lembra.

Elenco

Nomes conhecidos das artes plásticas vão se misturar a jovens promessas na Imagética. Integram o “elenco” feras como Carmela Gross, Regina Silveira, Rosângela Rennó, Mônica Nador, Cris Bierrenbach, Dora Longo Bahia, Jum Nakao e talentos mais recentes como Lia Chaia, Amilcar Packer e Ricardo Carioba, entre muitos outros.

Questionado sobre as críticas e manifestações de artistas e fotógrafos locais, que se opõem à adoção da Imagética no lugar da Mostra de Gravura e da Bienal de Fotografia, o presidente da Fundação Cultural, Cassio Chamecki, afirmou que “a entidade trabalha para a comunidade de Curitiba, e tem os artistas como parceiros nesse projeto”: “Assim como temos grandes eventos no teatro (Festival de Teatro) e música (Oficina de Música e Curitiba Pop), a Imagética é o grande evento das artes visuais. E queremos que a população de Curitiba tenha acesso ao que está sendo feito de melhor na arte contemporânea hoje. Nossa filosofia não se resume a agradar os artistas”, conclui.

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Visitação de terça a sexta, das 13 às 21h, sábados das 13 às 19h e domingos das 10 às 17h, com entrada franca. Informações pelo telefone (41) 321-3300, ou pelo site

www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br.

Espaços abrigam temáticas próximas

Ainda que formem um conjunto único, os trabalhos podem estar agrupados, conforme os espaços, por temáticas semelhantes. Assim, no Museu Metropolitano de Arte (MuMa), no Centro Cultural do Portão, ficam os trabalhos voltados à questão do corpo; no Solar do Barão estão obras que discutem o cotidiano, e no Moinho Novo Rebouças as produções voltadas à paisagem e ao espaço urbano. Alguns trabalhos extrapolam as áreas dos museus, e têm inserções em outros pontos da cidade, como o da fotógrafa Mônica Nador, que desenvolve seu projeto de Paredes Pinturas nas casas dos catadores de papel da Vila das Torres; Carla Zaccagnini, que está expondo e colocando à venda numa loja da cidade uma obra estampada em 30 metros de tecido. “É a antítese da reprodutividade da arte”, resume Ribenboim. “A obra inteira são os 30 metros de tecido – ou seja, ninguém vai ter a obra completa. Apenas fragmentos dela”.

No Memorial de Curitiba está a retrospectiva das Mostras de Gravura e das Bienais Internacionais de Fotografia, eventos tradicionais que formam a base referencial da Imagética. As obras foram escolhidas, pelos curadores Chico Nogueira e Bernadete Panek, entre as que integram os acervos dos Museus da Gravura e da Fotografia. Na Casa Romário Martins estão trabalhos que representam a idéia de “livro expandido”. Nesse caso é a palavra que extrapola os seus suportes tradicionais e se lança no universo do vídeo, revelando o seu poder visual.

A Imagética inclui ainda uma Mostra de Videografia, que reúne as vídeo-instalações distribuídas pelos espaços expositivos, e produções a serem exibidas na Cinemateca, que mostram como o vídeo se transformou de uma técnica para uma linguagem. Em três semanas de exibição (de amanhã a 19 de novembro, de 1.º a 5 de dezembro e de 12 a 18 de janeiro), será feita, em ordem cronológica inversa, uma retrospectiva que inicia nos atuais videoclipes de música brasileira e vinhetas da MTV, passa pela produção dos anos 90 e 80 e chega às origens da vídeo-arte nos anos 70.

Em conjunto com o corpo curatorial, a equipe de ação educacional da Fundação Cultural de Curitiba desenvolverá um trabalho de monitoria no acompanhamento da exposição nos diferentes espaços, com visitas guiadas voltadas ao público interessado. Serão realizados workshop e seminário pluridisciplinares, com a presença de artistas, críticos de arte, pesquisadores e curadores, visando aprofundar a reflexão e debater a expansão do campo da arte e a produção artística contemporânea.

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