Com a cara e a coragem

Mesmo tendo conseguido da Petrobras só R$ 150 mil – metade da verba mínima esperada – Cloris Ferreira respirou fundo e resolveu tocar adiante o 7.º Festival de Cinema, Vídeo e DCine de Curitiba. Emagrecido pela falta dos R$ 500 mil tradicionalmente investidos pela Copel, o festival acontece na data prevista, de segunda a sábado da semana que vem, no Canal da Música, em Curitiba.

“Estou apavorada, não tenho nenhum dinheiro para cobrir despesas extras, mas ainda estou atrás de uma parceria ou uma segunda cota da Petrobras… mas vai ser um festival de alto risco”, disse ontem a diretora do evento. “A programação está superenxuta, reduzimos ao mínimo o número de convidados e as despesas com transporte e hospedagem, abrimos mão da mídia, de forma a manter apenas a espinha dorsal – as mostras competitivas, a mostra oficial e os encontros de distribuidores e críticos”.

De fato, a estrutura está bastante despojada em relação às edições anteriores. Cloris teve que sacrificar o encontro das escolas de cinema e a Mostra Latina, que aconteceria na Cinemateca. Além disso, as oficinas integradas foram adiadas para setembro, sem data definida para começar, e até a fachada do evento no Canal da Música mudou de lugar, por questão de economia. “O mais importante é que os competidores venham”, ressalta.

Apesar das dificuldades, parece que a comunidade cinematográfica nacional acredita no Festival: “Tem muita gente vindo de ônibus, competidores, o pessoal do suporte. patrocinadores, alguns jornalistas, enquanto nós estamos tentando fechar o máximo de parcerias e permutas com hotéis, restaurantes, companhias aéreas, para que a coisa aconteça”. Conforto mesmo, só para os grandes diretores, atores, críticos e distribuidores. “Muitos deixaram de ir para Cannes para nos prestigiar, tínhamos que dar uma atenção especial”, justifica Cloris.

Ainda assim, a galeria de “medalhões” deve sofrer uma redução considerável. “Fui obrigada a chamar só o diretor e mais uma pessoa de cada filme da Mostra Oficial, ao invés dos três convites (fora o diretor) que mandávamos antes”, informa. Até ontem, só estavam confirmadas as presenças do diretor Fernando Meirelles (Cidade de Deus) e da atriz Débora Falabella (Dois Perdidos Numa Noite Suja).

Dos desfalques desta edição, o que Cloris mais lamenta é ter perdido o Prêmio Estímulo Copel. “Esta foi sem dúvida a nossa maior perda, pois o prêmio era a garantia da produção de pelo menos um filme paranaense, e de qualidade, por ano”, resume. “Foi o caso de O Encontro, de Marcos Jorge, que ganhou a mostra competitiva no ano passado e já faturou 19 prêmios”. Com o Prêmio Estímulo, a Copel repassava R$ 15 mil, e o cineasta vencedor ainda ganhava todo o equipamento e condições para rodar o seu filme.

Retroceder sem se render

Quando parecia que o Festival começava a se consolidar, a não depender tanto dos esforços da sua idealizadora, a reviravolta. “Achei que não ia precisar mais correr tanto atrás de patrocínio, mas de repente justo o nosso maior patrocinador não estava mais conosco”, diz Cloris. “E começamos tudo de novo.”

E ela já tentou se desvencilhar um pouco do Festival. “Fui entregar de bandeja para a Fundação Cultural de Curitiba, mas ninguém quis. O problema é que Curitiba continua mais voltada para o teatro, de cinema ninguém quer saber. Tanto que a Nitis [Jacon, idealizadora do Festival Internacional de Londrina e diretora do Teatro Guaíra] conseguiu R$ 500 mil do governo.

Mas a grande mágoa da diretora é com o que ela chama de “falta de solidariedade” da comunidade artística, empresarial e do próprio público do Paraná. “O ditado está certo, santo de casa não faz milagre mesmo. Fora daqui o festival tem muito mais prestígio, tenho tido muita solidariedade do pessoal de São Paulo, do Rio e do resto do Brasil, tem muita gente vindo de ônibus, que torce para que a coisa aconteça. Afinal, é o quarto maior festival de cinema do País. E aqui a própria comunidade cinematográfica boicota… Tinha gente que já estava comemorando a morte do Festival. Eu fico muito sentida com isso. É o nosso velho antropofagismo que vem à tona, esse provincianismo que nos mantém atrasados. Ainda temos que crescer muito”, desabafa. Com todos esses percalços, ela já pensou em jogar a toalha? “De jeito nenhum. Sou ariana com ascendente em Áries. Vou continuar fazendo o Festival nem que esteja só eu na platéia.”

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