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Com 12 longas e 8 curtas, festival busca conexão de público e produção nórdica

Haja coração, e resistência. Passada a Olimpíada, agora é o cinéfilo que tem de se desdobrar para dar conta de todos os eventos de cinema que estão começando na cidade. Quem reclama da mesmice do circuitão vai ter de se desdobrar. O Festival Internacional de Curtas, a 8½ Festa do Cinema Italiano e o 1º Festival Ponte Nórdica, que visa a estabelecer a conexão entre as salas e os espectadores brasileiros com o cinema nórdico. Estão todos começando ao mesmo tempo. O evento de cinema nórdico é promovido pelo Instituto Cultural da Dinamarca. São 12 longas e 8 curtas, e a curadora Tatiana Groff colocou ênfase na presença feminina.

Não necessariamente diretoras, embora elas sejam muitas. Também grandes atrizes e personagens fortes. São filmes dinamarqueses, suecos, finlandeses, islandeses, noruegueses e até da Groenlândia. A suprema raridade é o primeiro documentário produzido na Groenlândia, sobre o primeiro grupo de rock a gravar em groenlandês – Sumé – O Som de Uma Revolução. Será uma programação de descobertas, mas a pérola é um filme em pré-estreia, que terá lançamento na sequência. Em Berlim, em fevereiro, o diretor Thomas Vinterberg confessou ao repórter que A Comunidade era um filme que ele queria há muito tempo fazer. É seu melhor desde Festa de Família, uma das obras definidoras do conceito do Dogma. Lembram-se do movimento dos monges cineastas da Dinamarca?

Vinterberg e Lars Von Trier foram seus criadores. Redigiram o documento inicial, uma carta de princípios. Agregaram autores dispostos a seguir suas regras, a maior delas – o cinema sem artifícios – os próprios teóricos não seguiram. Von Trier trucou as cenas de sexo explícito de Os Idiotas, Vinterberg seguiu uma trajetória errática – fez até comédia boba em Hollywood – após o começo impactante. Mas agora ele se reencontra.

“Meus pais eram hippies que queriam viver a utopia da vida comunitária. Meu filme, A Comunidade, é sobre essa utopia. E é mais pessoal que autobiográfico. Vivi em comunidade alguns dos melhores anos de minha vida. Para um garoto, era o sonho não ter de frequentar a escola, viver no meio de gente que parecia coelho. Sexo a toda hora, com toda liberdade. Existe até hoje uma comunidade em Oslo. É a mais antiga da Europa, entre as que foram criadas nos anos 1960. Mas aquela, a nossa, acabou.”

A Comunidade é sobre o sonho que vira pesadelo. Uma mulher convence o marido a se juntar ao grupo. Nenhuma hipocrisia, relações igualitárias. Mas ele se envolve com outra mulher, e o grupo desintegra-se. Para simbolizar crise, Vinterberg cria uma personagem de criança enferma.

“Precisava dessa liberdade ficcional e poética para dar sustentação ao drama”, ele explicou. A Comunidade é um grande filme, com grandes atrizes.

Trine Dyrholm é a maior de todas – a maior da Dinamarca. Venceu o prêmio de interpretação no Festival de Berlim deste ano, avalizada pela presidente do júri, Meryl Streep, que se curvou perante ela. Apesar disso, dificilmente será lembrada no Oscar, mas sua interpretação é daquelas que fazem a diferença. “É emocionante propor um diálogo e ver uma atriz como Trine se apossar dele e transformá-lo, para melhor”, contou Vinterberg.

Além desse – A Comunidade -, a 1.ª Ponte Nórdica tem mais 11 longas (e os curtas). Virão as diretoras de dois filmes para encontros com o público – Katjia Weik, de Ex-Mulher, e May El-Touhky, de Moral da História. Vão debater temas como Mulher, Imagem e Mercado de Trabalho. E outro filme no qual o público terá de prestar atenção é o sueco Martha e Niki, de Tora Martens. Negritude da distante e gélida Suécia. A dança como uma política do corpo. Como a excepcional atuação de Trine Dyrholm, Martha e Niki é desses filmes que têm feito as diferença por onde passam.

FESTIVAL PONTE NÓRDICA

Caixa Belas Artes. Rua da Consolação, 2.423, tel. 2894-5781.

De 25/8 a 7/9. R$ 10 (R$ 30,

para todos os filmes).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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