Chatice atraente

Suely Franco está surpresa com a maneira como é abordada pelas mulheres nas ruas. A atriz pensou que Agripina, a sogra rabugenta que ela interpreta em Sete pecados, seria odiada. Mas as noras e sogras que a abordam se identificaram com a personagem. ?As moças casadas dizem que têm uma sogra igual a mim. Já as sogras falam que eu digo na novela tudo o que elas têm vontade de falar para seus genros e não podem?, conta Suely. O carinho do público, segundo a atriz, é o mesmo da época em que ela interpretava Dona Benta, no Sítio do Picapau Amarelo.

Foi com esse trabalho (Dona Benta), aliás, que Suely assinou o seu primeiro contrato longo com a Globo. Com 47 anos de carreira – a estréia foi em Gabriela, cravo e canela, exibida na Globo em 1960 – ela afirma que tem mais lembranças positivas do que negativas desta trajetória, apesar da caminhada não ter sido fácil. ?O mais complicado é manter uma casa e uma família com essa profissão tão inconstante?, considera.

P – Em Sete pecados, sua personagem Agripina é tão ranzinza que chega a ser engraçada. Como tem sido a repercussão da personagem?

R – Quando recebi a sinopse, achei que todo mundo fosse me odiar porque ela vive cometendo maldades, inclusive com o personagem do Gianecchini, que é querido por todo mundo. Mas as pessoas adoram. Outro dia, uma senhora disse que eu estava maravilhosa porque falava na novela tudo o que ela tinha vontade de dizer, mas não o fazia por educação. Há moças que dizem que eu sou igual às sogras delas, sempre indesejável. O público tem simpatia pela Agripina.

P – Quais foram as maiores dificuldades em seus 47 anos de carreira?

R – A profissão de ator é muito inconstante e o mais complicado é você sustentar uma casa, manter uma família com essa atividade. Sem contar que, quando comecei, a tevê não era esse mundo maravilhoso que é agora. Os profissionais de teatro tinham muito preconceito em relação à tevê. Mas tirando uma fase negra em que fiquei oito meses sem conseguir absolutamente nada, não posso reclamar. Sempre recebi muitos convites e dependo disso porque não tenho o perfil de empresária. Nunca tive coragem para bancar um projeto próprio, produzir um espetáculo. A única vez que fiz isso foi um fiasco. Faz dois ou três anos. Consegui cenário de graça, figurino, bailarinos e montei Suely apaixonada no Teatro Glória, no Rio de Janeiro. Mas eu não tinha dinheiro para a divulgação e apareciam apenas 20 ou 30 pessoas por noite. Fiquei em cartaz só dois meses.

P – Para uma veterana, episódios como esse machucam muito?

R – Dói. É chato. Mas foi mais uma experiência. Quem foi me ver, gostou, e me deu carinho suficiente para que eu não ficasse triste. Momentos como esse são recompensados por outros melhores. O que fica na minha lembrança são os prêmios que ganho, os personagens que tocam forte no público como a Mimosa de O Cravo e a Rosa ou mesmo a Agripina. Já tive várias críticas positivas em jornais nessa novela. Isso é o que mais marca na profissão. 

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