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Chanel apresenta em Paris exposição em homenagem a Godard

Quando Anna Karina chegou a Paris no fim dos anos 50, com apenas 17 anos, não imaginava que o encontro com Coco Chanel mudaria sua vida para sempre. Foi a estilista quem sugeriu que a dinamarquesa, então modelo, mudasse seu nome – Hanne Karin Bayer – para algo mais agradável aos ouvidos franceses, sem abrir mão de certo exotismo. Mais tarde, Anna Karina se tornaria musa do cineasta Jean-Luc Godard e estrela de alguns dos filmes mais emblemáticos do século 20. A Chanel, enquanto isso, estreitou ainda mais sua relação com o cinema – indo além da proximidade de sua criadora com as atrizes francesas. Agora, a conexão histórica, que ultrapassa barreiras de tempo, idioma ou lugar, dá mais um passo: em uma parceria inédita com a Cinemateca Francesa, a grife apresenta uma mostra retrospectiva em homenagem a Godard.

Em cartaz até 1.º de março na capital francesa, Tout Godard é a primeira exposição a contar com a presença do diretor – e começa com um tributo a Anna Karina, que morreu em dezembro do último ano. Para a curadora, Nicole Brenez, “Godard é um dos grandes porque é, indissociavelmente, o mais crítico, inventivo e amoroso”.

Nas últimas décadas, foram muitos os filmes a contar com Chanel no figurino. Em De Salto Alto (1991), de Pedro Almodóvar, a protagonista vivida por Victoria Abril usa terninhos da maison do começo ao fim. Em Abraços Partidos (2008), também do diretor espanhol, Penélope Cruz veste apenas Chanel, com peças que vão da alta-costura de 1992 até a coleção Cruise de 2007. No longa Personal Shopper (2016), de Olivier Assayas, a atriz Kristen Stewart é outra a usar peças assinadas pela marca. No premiado Era Uma Vez em… Hollywood (2019), mais recente trabalho do diretor Quentin Tarantino, Margot Robbie veste um icônico vestido bicolor da etiqueta.

O casamento entre Chanel e cinema começou com uma paixão fulminante entre Coco e a nouvelle vague. O momento de efervescência cultural na Paris da década de 1960 tinha tudo a ver com o espírito transgressor da estilista. Nos anos 30, ela passou uma temporada produzindo figurino em Hollywood, onde vestiu nomes como Gloria Swanson, estrela do cinema mudo. Mas os grandes estúdios norte-americanos não eram compatíveis com seu estilo, considerado muito simples para o glamour hollywoodiano. Já no cinema francês, as listras, o tweed e as silhuetas minimalistas de Chanel eram o visual perfeito para nomes como Jean Seberg, atriz da nouvelle vague que se tornou símbolo da modernidade da época ao estrelar filmes como Acossado (1960) – clássico de Godard que completa 60 anos em 2020.

Em 1961, a relação entre a maison e a sétima arte atingiu um novo patamar quando Coco Chanel foi chamada pelo diretor Alain Resnais para vestir a atriz Delphine Seyrig no filme O Ano Passado em Marienbad. Pela primeira vez na história, o figurino não foi criado especialmente para a produção. Resnais queria que a personagem vestisse roupas da vida real, que fossem atemporais. Coco então selecionou looks de alta-costura do acervo de sua marca, que se tornariam parte importante da história, ajudando a situar o filme, revolucionário para a época por sua narrativa não cronológica, no tempo e no espaço. “Os vestidos de musseline em preto e branco pareciam flutuar na tela. Todas as mulheres, incluindo Brigitte Bardot, queriam um vestido Marienbad. O filme era também uma fonte inesgotável de inspiração para Karl Lagerfeld”, conta Bruno Pavlovsky, presidente de moda da marca, em entrevista ao jornal francês Le Figaro.

Chanel virou escolha dentro e fora das telas. A atriz Jeanne Moreau, por exemplo, era cliente fiel da grife e emprestava peças para suas personagens, como no papel em Uma Mulher É Uma Mulher, de Godard. Karl Lagerfeld, que assumiu a direção criativa da casa francesa de 1983 até sua morte, em fevereiro de 2019, daria continuidade à conexão de sua predecessora com o universo cinematográfico. Kristen Stewart, Lily-Rose Depp, Diane Kruger, Keira Knightley, Penélope Cruz e a brasileira Laura Neiva são apenas algumas das atrizes a firmar uma amizade com o estilista, aparecendo na primeira fila dos desfiles e usando Chanel nas premiações e grandes estreias.

Agora, quem estreita os laços com o cinema é a nova diretora criativa da grife, Virginie Viard. Para a temporada de primavera 2020, a inspiração de suas criações foi justamente a nouvelle vague. Já na coleção Métiers dArt, apresentada em dezembro, Virginie convidou a diretora Sofia Coppola para criar o cenário do desfile, uma reconstrução do emblemático endereço da marca na Rua Cambon, em Paris. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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