Casseta & Planeta satirizam anos 70 em “A Taça do Mundo é Nossa”

Bussunda tinha 8 anos em 1970. Lembra-se de que os pais, comunistas de carteirinha e adversários ferrenhos da ditadura militar, torciam contra o Brasil na Copa do México. O assunto é agora motivo de piada em Casseta & Planeta – A Copa do Mundo É Nossa!” O primeiro filme do grupo mais anárquico de humoristas da TV brasileira estréia hoje em 270 salas de todo o País.

São Paulo – A publicidade do filme é superior à verba de produção – R$ 6 milhões contra R$ 5 milhões. É muito mais dinheiro do que foi investido para promover Carandiru e Os Normais, ambos co-produzidos pela Globo. Na TV, o Casseta & Planeta é visto por 20 milhões de telespectadores, todas as semanas. Como o cinema é outra mídia e é mais difícil convencer o público a sair de casa e pagar o preço inflacionado dos ingressos nas salas de shopping, Bussunda já ficaria feliz com 2 milhões de espectadores nesta primeira aventura cinematográfica. Hélio de La Peña vai pelo mesmo caminho. Eles não querem entrar na paranóia dos números. Divertiram-se preparando e fazendo A Taça do Mundo É Nossa!, e querem que o público faça o mesmo.

A idéia do filme veio da Conspiração, que propôs ao grupo a realização do longa. Os Cassetas acharam do cacete. Lula Buarque de Hollanda foi escolhido como diretor, a Globo Filmes e a Warner toparam a parada e, claro, as Organizações Tabajara vieram com os comediantes. A primeira dificuldade foi achar um tema. Optaram pelos anos 70, quando o pau comia solto sob a ditadura. Faz sentido. “Queríamos alguma coisa que conhecêssemos bem”, diz Bussunda. Muita gente – amigos, consultores, até produtores – foi contra. Achavam que a garotada, que vai ao cinema, não conhece aquele período, não teria empatia. Os Cassetas bateram pé.

“Vai ser a ditadura” – dentro dela escolheram o tema do roubo da Taça Jules Rimet. O período é delicado. Sem liberdades democráticas, o Brasil vivia uma ditadura cruel, na qual os militares batiam a arrebentavam. O que hoje é motivo de riso, há 30 anos dava cadeia. Logo nos créditos, os Cassetas informam que os militares só queriam poder com os estudantes, os trabalhadores e a imprensa. “Naquele tempo, era poda”, completam.

“Tem o ônus e o bônus”, avalia Bussunda. “Estamos tratando de forma divertida de um período que era tabu.” O desrespeito é inevitável. Os militares são ridicularizados em todas as cenas, especialmente numa boate na qual executam um número musical tipo Dzi Croquetes, todo mundo com a mão na nádega de todo o mundo. Che Guevara é personagem decisivo da trama sobre três perigosos comunistas terroristas subversivos que roubam a taça para financiar a revolução. O grupo preparou vários roteiros e ensaiou durante dois meses antes das filmagens – em janeiro e fevereiro deste ano. Eles improvisam muito na TV. No cinema, o que ficava bom no ensaio, era incorporado ao roteiro, o que foi uma forma de disciplinar a improvisação. Embora a história se passe há mais de 30 anos, a intenção evidente é o paralelismo com o presente, senão não teria graça. Nos créditos finais, a direção é atribuída a Michael Schumacher e há um continuísta que se chama Luiz Inácio da Silva. O filme foi exibido na terça-feira à noite no Palácio do Planalto. Bussunda sentou-se ao lado do presidente. Você quer saber se Lula gostou, não? “A parte em que aparece o nome dele foi aquela em que o Lula mais riu.” Ninguém resiste ao deboche de Casseta & Planeta.

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