“Casa das sete mulheres” é um celeiro de atores

Ao assistir “A Casa das Sete Mulheres”, fica claro que o Brasil é um celeiro de atores. Assim como no futebol, em que não raramente aparecem craques a cada temporada, na tevê o “fenômeno” é semelhante. Na minissérie da Globo, por exemplo, é impossível não perceber uma nova atriz em cena: Camila Morgado. Na pele da protagonista Manoela – que através de suas memórias escritas em seu diário descreve os principais acontecimentos da trama -, a atriz petropolitana revela o quanto é possível “mergulhar” em um papel televisivo. Longe de ter a beleza plástica da igualmente loura Mariana Ximenes, por exemplo, Camila passa ao largo de simples caras e bocas e consegue com a sonhadora Manoela atingir o objetivo de um ator: fazer com que o espectador acredite nas falas e no sentimento do personagem.

Se Camila Morgado representa uma nova safra de talentosas atrizes brasileiras, Nívea Maria é sem dúvida quem chama a atenção entre as veteranas do elenco escolhido a dedo por Jayme Monjardim. A atriz interpreta Maria, mãe da Manoela de Camila Morgado, de uma maneira impressionante e que torna a personagem de uma total amargura, rigidez e severidade. Maria é, entre as mulheres da casa, a que não abre espaço para sonhos e ilusões. Nem para ela própria e nem para quem a rodeia. No caso de Nívea Maria, a atriz dá uma aula de como um simples olhar já é suficiente para transmitir o universo de uma personagem. Algo que, por mais que Mariana Ximenes tente, não consegue como Rosário. Acostumada com papéis que exploram a sua perfeita forma física, patina em caras e bocas e não passa disso. Apesar de, incontestavelmente, ser uma graça.

Já Giovana Antonelli e Daniela Escobar chamam a atenção pela facilidade camaleônica de incorporar novos papéis. Esta última, não raramente olhada com desconfiança por ser esposa de Jayme Monjardim, tem um desempenho na minissérie que a absolve de ser presença certeira nas produções comandadas pelo diretor. Na pele de Perpétua, filha mais velha de Bento Gonçalves, Daniela prova que é antes de tudo uma atriz que empresta sentimentos a seus personagens sem parecer dissimulação. Assim como Giovana Antonelli, ela exibe uma performance que nada tem a ver com o seu trabalho em “O Clone”, quando fez a chiquérrima Maysa.

Já a Anita Garibaldi de Giovana exala um frescor que somente as atrizes que tem o dom de desaparecer em suas personagens conseguem. Além disso, Giovana foi premiada com um texto que é de longe o mais saboroso e reflexivo da minissérie adaptada por Walther Negrão e Maria Adelaide do Amaral. “Bendita pobreza que me liberta” ou “não quero ser o primeiro, mas o último amor de um homem” são frases que diferenciam Anita, personagem real, do clima romântico e quase “tatibitate” da maioria das outras mulheres do livro que originou a minissérie.

Aliás, quem esperava uma trama que realmente primasse pelo rigor histórico pode ter se decepcionado com “A Casa das Sete Mulheres”. A Revolução Farroupilha, construída por homens entre os anos de 1835 e 1845, se torna cada vez mais um pano de fundo. A começar pela apresentação de Bento Gonçalves, figura histórica cheia de controvérsias, apesar de bem interpretado pelo excelente Werner Schünemann. Para quem nunca havia escutado falar no general farroupilha, a imagem é a de um homem dedicado à família, apaixonado pela esposa e amante de pelejas. Mas ele foi bem mais do que isso. Para começar, pode ter tido 50 filhos, pois gostava, assim como o general Netto, de uma “china de campanha”.

Também chegou ao final da revolução isolado, pois não promulgou uma nova constituição como havia prometido e os próprios companheiros de seu exército já o olhavam com desconfiança. Quanto ao cenário escolhido por Jayme Monjardim no Rio Grande do Sul para mostrar a história, só quem não conhece os pampas não estranha. Pinheiros e serras não existem no Sul do Rio Grande do Sul. Mas belas imagens são primordiais na tevê. Já glamourizar tanto Bento Gonçalves é mais grave, pois se está apresentando uma figura histórica de maneira distorcida e parcial. É esse Bento Gonçalves da Globo que vai estar na cabeça dos estudantes de todo o Brasil no próximo vestibular.

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