Carlos Alberto termina livro em homenagem ao pai, Manoel de Nóbrega

Nos últimos meses, Carlos Alberto de Nóbrega conciliou o velho banco da praça com a cadeira do computador. Enquanto continuava apresentando o programa A Praça é Nossa, há 17 anos no SBT, dava os últimos retoques no livro A luz que não se apaga, escrito em homenagem ao pai, Manoel de Nóbrega. Durante muito tempo, Carlos Alberto foi encorajado por amigos e familiares a reunir as muitas histórias que contava sobre seu pai, o criador do programa A Praça da Alegria em 1955 para a extinta TV Paulista, atual TV Globo. “Há muitos anos, eu pensava em escrever esse livro, mas evitava ao máximo. Talvez por medo de que os outros pensassem que estou me aproveitando do meu pai para me promover”, justifica.

No livro, Carlos Alberto relembra inúmeras histórias. A maioria delas, divertidas, como as vividas em Nova York, onde seu pai trabalhou, por seis meses, nos estúdios da CBS. Lá, Carlos Alberto conheceu, ainda menino, o comediante Bob Hope e o cantor Bing Crosby. Mas há momentos emocionantes também. Em meados de 1975, pai e filho foram surpreendidos por uma triste notícia: Manoel de Nóbrega estava com câncer no fígado. Mesmo debilitado, ele nunca perdeu o bom humor. Certa vez, já no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, Manoel de Nóbrega queixou-se de alguém que tocava, sem parar, a mesma melodia na sanfona. “Meu filho, vá lá e mate esse filho da mãe para eu dormir em paz”, recorda Carlos Alberto, emocionado.

P –

Qual foi o momento mais difícil que você enfrentou para escrever o livro?

R –

Por várias vezes, tive de interromper o trabalho. Sou muito chorão, sabe? Manteiga derretida mesmo… Por isso, sofri muito ao falar de sua morte. Na verdade, nunca quis ver o seu corpo. Preferia me lembrar dele, no Guarujá, quando a gente ia tomar banho de mar. A gente conversava muito. Muito mesmo. Às vezes, até o sol se pôr. Meu sonho era envelhecer ao seu lado. Se ele estivesse vivo, seríamos grandes amigos. Seríamos dois velhinhos simpáticos.

P –

Qual foi a maior lição que você aprendeu com o seu pai?

R

– A coragem. Meu pai costumava dizer: “É na hora do perigo que se conhece um homem”. A primeira vez que ouvi isso foi em 1945, quando o avião em que viajávamos teve de fazer uma parada forçada perto de Anápolis, em Goiás. Era véspera de Natal. Hoje, não me deixo abater por nada que me acontece. Enquanto há vida, há esperança.

P –

O Baú da Felicidade foi uma idéia de seu pai. Você não ficou ressentido pelo Silvio Santos ter herdado o Baú?

R –

De maneira nenhuma. Não sei quem disse essa frase, mas ela define exatamente o meu pai: “Ele sabe botar o ovo, mas não sabe fazer omelete”. Nada mais certo. Para mim, o Baú não foi criado pelo Manoel de Nóbrega e sim pelo Silvio Santos. Melhor: pelo Senor Abravanel, um homem com uma visão comercial sem igual.

P –

Nos anos 70s, o programa A Praça da Alegria chegou a ser exibido pela Globo. Como você se sentiu ao ver o Luiz Carlos Miéle ocupando o lugar de seu pai?

R –

Eu tinha pesadelos horríveis. Sonhava sempre que eu estava na praça e, de repente, aparecia meu pai: “Vai lá, pai, senta no banco…”, eu dizia para ele. Mas o Miéle, é bom que se diga, fazia o programa com um amor tremendo. Só que a Globo quis impor seu padrão à praça e não deu certo. Quando o programa acabou, juntei todos os scripts no quintal de casa e botei fogo. Não queria que nenhum outro filho da mãe pusesse as mãos naquilo outra vez…

P –

Mas a que você atribui o sucesso do programa A Praça é Nossa, que já existe há 17 anos no SBT?

R –

Pois é, como é que são as coisas, não é mesmo? O filho da mãe fui eu! Mas o segredo do sucesso, a meu ver, é fazer aquilo que o povo gosta. Para que complicar? Quando o pessoal me vê nas ruas, me cumprimenta como se fosse o Tiririca: “Quem é você?”. O povão gosta disso. E é para o povão que eu faço o programa. Quem não gosta de rir, não é verdade? Não conheço ninguém que não goste…

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