Carandiru tem recepção fria

Cannes – Carandiru, de Hector Babenco, foi apresentado pela primeira vez no Festival de Cannes no domingo. A recepção foi gélida. Alguns espectadores (não mais do que a média em outros filmes) saíram no meio da sessão. No final, palmas tímidas e algumas vaias. É cedo para dizer se com isso diminuem as chances do filme brasileiro na disputa à Palma de Ouro.

Ontem ocorreu a coletiva de imprensa da delegação brasileira – desgraçadamente logo após à de Lars von Trier, Nicole Kidman & cia. Meia sala permaneceu no recinto, e foram feitas apenas duas perguntas a Babenco, Drauzio Varella (autor do livro Estação Carandiru, que deu origem ao longa) e os atores Rodrigo Santoro, Caio Blat, Aída Lerner e Maria Luiza Mendonça. Um correspondente italiano quis saber por que o filme era um sucesso no Brasil, e outro de Los Angeles questionou se o livro e o filme teriam influenciado na desativação do presídio paulistano.

O diretor respondeu ao jornalista italiano que o tema da violência urbana intriga e interessa à platéia brasileira, e estimou que seu filme chegará a 4,5 milhões de espectadores no Brasil. O público atual é de 3,3 milhões. Ao norte-americano, afirmou “não ter esse poder”, dizendo não acreditar que qualquer obra de arte, “qualquer que seja”, possa provocar mudanças na sociedade.

Algumas pessoas se queixaram da excessiva duração do filme (2h32). Outras do número excessivo de personagens. Mas alguns espectadores reconheceram que se trata de filme forte, ainda que difícil. Convém lembrar que a mesma platéia aplaudiu muito o abominável Il Cuore Altrove, do italiano Pupi Avati, e recebeu com indiferença glacial o turco Uzak, o melhor do festival até agora. Tudo pode mudar, mas deve-se registrar que a primeira impressão não foi exatamente boa.

Muito mal recebido pelo público porém foi Elephant, do americano Gus van Sant, um dos títulos mais esperados da competição – primeiro porque Van Sant teve um começo de carreira interessante (com Drugstore Cowboy), comprometido depois por filmes problemáticos, como o remake de Psicose, o clássico de suspense de Hitchcock; segundo, porque o tema do filme é o famoso crime de Columbine, quando dois adolescentes arrumaram armas e trucidaram vários colegas e funcionários da escola onde estudavam – tema que rendeu o Oscar de documentário a Tiros em Columbine, de Michael Moore.

A decepção do público talvez venha tanto do excesso de expectativa como da frieza com que Van Sant desenvolve seu tema. Ele começa por apresentar seus personagens em longos planos-seqüência, com uma estrutura narrativa circular, em que a mesma cena é reevocada de vários pontos de vista. Não há construção psicológica dos personagens ou ela é superficial. Em entrevista, Van Sant diz que não procurou explicar a motivação do crime. “Deixei essa interpretação a cargo do espectador.”

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