Capitão América morreu. Não acredite nisso

A notícia espalhou-se através da imprensa mundial e pegou de surpresa os leitores de gibis. Capitão América, um dos mais antigos e conhecidos personagens das histórias em quadrinhos, morreu aos 89 anos de idade, baleado nas escadarias da Corte Federal de Manhattan, em Nova York, Estados Unidos. Depois de 65 anos lutando contra os bandidos e inimigos da liberdade, o aparentemente imortal herói foi vítima de um franco-atirador.

O fato foi divulgado pela própria Marvel Comics, que edita as aventuras do Capitão América, em seu site na internet, em caráter de urgência, com poucos detalhes, como manda o figurino. Destaca apenas que ?a cena (do assassinato) é um retrato do caos e da confusão, depois que um ex-super-herói foi baleado?. Por que ?ex-super-herói? não é explicado.

Super-soldado

De minha parte, gostaria muito que a notícia fosse verdadeira e a morte do valentão dos meus tempos de criança fosse para valer. Sempre tive o Capitão América como uma das mais detestáveis criações dos quadrinhos. Patriota e reacionário até a medula, entrava em cena sempre que os interesses de Tio Sam eram ameaçados. Era a própria América personificada. Tanto é que vestia um uniforme com as cores da bandeira americana, vermelha, azul e branca, uma bela estrela no peito e um enorme A na máscara. Além disso, valia-se de um poderoso escudo igualmente estrelado como arma e proteção.

CA chamava-se, na verdade, Steve Rogers, um super-soldado que nasceu em 4 de julho de 1917, Dia da Independência dos Estados Unidos. Foi criado em 1941, às vésperas do ataque japonês a Pearl Harbor, como resforço de guerra, para dar ânimo às forças americanas no ?front?. No início, era um fracote, sem nenhum poder. Mas foi sendo transformado em um super-soldado pelo Exército. Tanto que na capa de sua primeira revista, Captain Marvel Comics, da Timely Comics (hoje Marvel Comics), lá estava ele, faceiro, socando a cara de Adolfo Hitler. Depois, enfrentou os japoneses. E quando a Segunda Guerra Mundial acabou, saiu de circulação, amargurado com a morte de seu parceiro de lutas, o jovem Buck. Joe Simon (texto) e Jack Kirby (desenhos) foram os seus criadores.

Teria ficado melhor no ostracismo. Mas a Marvel decidiu ?ressuscitar? o velho soldado em 1964, inventando um período de ?hibernação? num iceberg, o que teria interrompido o envelhecimento do herói. Assim, de ?avô? dos super-heróis da atualidade ele passou a companheiro da nova geração de aventureiros dos gibis, como Homem-de-Ferro e Homem-Aranha. A coisa beirou o ridículo, mas a editora tentou remediá-la oferecendo ao deslocado Steve Rogers algumas crises existenciais.

A verdade é que o esforço não rendeu o resultado esperado. E o velho/novo Capitão, que já era chato nas décadas de 40/50, foi se tornando cada vez mais insuportável. Entre 1996 e 1997, foi ?repaginado? por Rob Liefeld, como parte do evento ?Heróis Renascem?. Mas a série Captain America, vol. 2 só durou 13 números. Houve depois um vol. 3 e um vol. 4, este em 2002, bastante influenciado pelo atentado de 11 de setembro de 2001. Uma boa pergunta, aliás: onde estava o grande protetor da América quando do ataque às Torres Gêmeas?

Em 2005, a Marvel iniciou a publicação da atual fase do personagem, escrita por Ed Brubaker, com arte de Steve Epting, Michael Lark e Mike Perkins.

Jogada de marketing

A morte do Capitão América é para valer? Infelizmente, não. Já se tornou tradição no mundo dos gibis ?matar? o herói sempre que há um declínio na venda da revista dele. Super-Homem, por exemplo, já ?morreu? e ?ressuscitou? pelo menos quatro vezes. O próprio Steve Rogers já morrera uma vez, quando restou congelado e depois descoberto por Namor, o Príncipe Submarino, em uma aventura dos Vingadores.

Novo personagem pode aparecer.

Além do que, Brubaker, o atual roteirista do herói, é um especialista em ressurreições. Entre outras façanhas, ele já foi capaz de trazer de volta Bucky Barnes, o companheiro do Capitão durante a Segunda Guerra, e também reviveu o Caveira Vermelha, o maior inimigo do justiceiro.

No mundo dos quadrinhos tudo é possível, como se sabe, e próprio editor-chefe da Marvel, Joe Quesada, dá uma boa pista sobre o eventual retorno do astro, ao afirmar que ?não é impossível que o personagem retorne algum dia?.

Já Joe Simon, de 93 anos, um dos criadores do Capitão, não escondeu a sua tristeza com o falecimento do herói e, em declaração ao jornal New York Daily News, lamentou: ?É um péssimo momento para ele ir embora. Nós realmente estamos precisando dele agora?.

Só se for para ajudar o povo americano a apear do poder o tirano George W. Bush. 

Será este o novo Capitão América?

 
Seqüência de capas das diversas fases da revista, até a derradeira, assinada por Ed Brubaker.

Indagação semelhante a esta foi publicada no site da Marvel, juntamente com a imagem acima. O elemento, como diriam os nossos policiais, tem um quê de outro herói da editora, o Justiceiro, e ilustra a capa da revista Punisher War Journal # 7.

Aliás, recente edição da publicação revela que Steve Rogers, o alter-ergo do Capitão América, serviu de inspiração para Frank Castle como soldado. Em Civil War, porém, os dois entraram no pau, depois de o Capitão haver criticado os métodos do assassino de criminosos.

Revista terá uma segunda edição

A primeira conseqüência da notícia da morte do Capitão América atingiu em cheio os objetivos dos editores norte-americanos: o n.º 25 da atual fase da revista Captain America esgotou-se rapidamente. Os donos dos comics shops chegaram a reclamar da falta de informação prévia sobre a edição especial, a fim de que pudessem ter aumentado o estoque. Mas conformaram-se diante do aumento da freguesia em suas lojas e da promessa da Marvel de que uma segunda impressão da revista já estava sendo preparada para circular até o final do mês.

Vale acrescentar que a morte do Capitão América é efeito da minissérie Guerra Civil (Civil War), ainda inédita para os leitores brasileiros, que redefiniu, uma vez mais, todo o Universo Marvel.

Outra conseqüência tem sido a atual agitação da vida do escritor Ed Brubaker, envolvido em uma maratona jornalística sem precedente:

– O mais estranho – conta ele – foi quando saí de uma entrevista da National Public Radio e vi que os funcionários da emissora tinham ido à comic shop mais próxima comprar a revista só para eu autografar. Foi fantástico. O que não tem sido fantástico é o número de pessoas que passaram a me chamar de idiota e estão pedindo a minha cabeça à Marvel. Felizmente, ainda não recebi nenhuma ameaça de morte.

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